22 dezembro 2007

Cidadania do adolescente

A morte do garoto em Bauru, praticada por policiais, é o que eu acho a subservência aos poderosos, pois muito provavelmente a moto roubada, se é que foi mesmo roubada pertencia a alguém importante da cidade, a uma autoridade ou amigo do amigo do amigo de alguém ou de conhecido dos policiais. Se a vítima do possível assalto é um cidadão comum será apenas lavrado uma ocorência, a emissão do boletim e depois fica na boa vontade da investigação. São normais casos assim em que para atender a um pedido especial e principalmente se o acusado for pobre e"di menor" descobrem tudo muito rapidamente.

20 dezembro 2007

Cidadania da garrafa pet

Projeto proíbe uso e venda de bebida em garrafas PET em SP
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Projeto de lei do governo de São Paulo obriga as empresas que produzem e comercializam água mineral, refrigerantes e outras bebidas a abolir o uso das garrafas plásticas, conhecidas como PET, num prazo de seis anos. Fabricantes de cerveja que passarem utilizar o plástico antes de a medida entrar em vigor terão um ano para se adequarem à lei.
O polêmico documento deve ser enviado à Assembléia no início de 2008, segundo o secretário do Meio Ambiente, Xico Graziano. "A poluição por resinas plásticas é responsável por inúmeros prejuízos ao ambiente, à saúde e à segurança da população. Praticamente todas as áreas urbanas do país convivem com inundações, provocadas pelo assoreamento de valas, rios e canais e pelo entupimento de galerias pluviais, em muito relacionadas diretamente ao descarte irresponsável de lixo plástico", diz o texto.
Dados da Abir (associação das indústrias de refrigerantes) mostram que o PET domina o mercado, com 79,9% das embalagens (em dezembro de 2006). O vidro tem 12,3% e a lata, 7,8%.
O consumo de plástico para embalar bebidas tem crescido ano a ano. Passou de 80 mil toneladas, em 1994, para 374 mil, em 2005 -367,5% a mais-, segundo a Abipet (Associação Brasileira da Indústria do PET). A reciclagem desse material foi de 18,8%, em 1994, para 51,3%, em 2006 (veja quadro).
Para o presidente da Abipet, Alfredo Sette, a lei acabará com a indústria de PET. Ele diz que o problema não é o plástico em si, que pode ser totalmente reciclado, mas a falta de educação ambiental e a coleta de lixo ineficiente. "A tendência de crescimento da reciclagem não está interrompida. Há pontos ociosos porque não se coletam garrafas suficientes."
Segundo ele, enquanto, no Brasil, o consumo de embalagens PET é de 2,9 kg/habitante, na Bélgica, chega a 8,8.
Para o ambientalista Fábio Feldman, o uso do plástico precisa ser desestimulado. Mas ele afirma que o governo deveria instituir metas de reciclagem e usar instrumentos econômicos para priorizar os produtos que poluem menos, em vez de simplesmente proibir o uso.
"Não conheço lugar no mundo em que haja proibição tão drástica. Deveria ser feita uma análise do ciclo de vida dos produtos. Quem tiver menor impacto ambiental deveria ser beneficiado com redução de tributos, por exemplo", diz.
Segundo o governo, a fabricação das resinas plásticas provoca grande quantidade de gases que agravam o efeito estufa. Além disso, o PET demora centenas de anos para se degradar.
Um argumento a favor do plástico é sua leveza. Para transportar um material mais pesado, como vidro, são necessários mais caminhões -e estes também poluem o ambiente.
Para o presidente da Abinam (Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais), o geólogo Carlos Alberto Lancia, a lei vai beneficiar "três ou quatro grandes empresas" e vai concentrar o mercado nas mãos de poucos. "Vamos voltar ao que era na década de 60. Uma fábrica para produzir embalagens de vidro custa milhões. E é preciso muito mais estrutura para coletar garrafas retornáveis."

11 dezembro 2007

Cidania do Natal e do Papai Nóel




Começa o mês de dezembro e as pessoas, influenciadas pelo aparecimento da Estrela de Belém há 2.000 anos, deixam de lado a dureza e a cegueira do ano que está acabando e resolvem se penitenciar. E ai começam as “caravanas de papais nóel” dirigindo-se ás periferias tendo como alvo principalmente as crianças.

Pela primeira vez acompanhei uma “caravana” e, muito embora a minha descrença com ealação a estes eventos, tinha a esperança de “ser convencido” e entrar no espírito natalino. Mas foi tudo em vão e começou logo na primeira chegada a uma aldeia indígena, com um dos papais nóel “saudando” as pessoas com a mão direita e com um cigarro aceso na esquerda. Rápidamente foram dadas ordens às crianças para que formassem filas, com meninos de um lado e meninas de outro (depois das outras “visitas” fui entender o motivo de tanta rapidez na formação de filas). Os indígenas não tem a cultura de papai noel - a minha amiga que estava de vestido vermelho e gorro também vermelho foi saudada por uma das crianças: “olha o papai-nóel” – tem outros tipos de brinquedo e de diversão e quando receberam os aviõezinhos de plástico (os meninos) e uma bolsinha feminina de plástico( as meninas) não entenderam direito e a reação deles foi de extrema decepção (ou quem sabe por timides) e não sorriram nem com a outra rodada de chicletinhos e bambolês de plástico. E foi duro ouvir algumas frases, como a do coordenador a uma das voluntárias: “não está faltando indio?” e eu poderia responder, se não fosse educado e estraga prazer: “a que indio você se refere cara pálida?”. Ao ouvir comentários das dificuldades de moradia dos indios, sem espaço, morando em barracos e com as crianças sujas saiu a pérola: “é por isso que faço questão de vir todos os anos, para ver o sorriso delas”. Que sorriso cara pálida. Talvez se refira ao sorriso das crianças brancas, estas sim, sorriem pois desde pequenas são acostumadas pelo pais a esperar os presentes de fim de ano dos tios vestidos de papai nóel. Na segunda atividade a mesma agilidade na formação de filas e o mesmo papai nóel que chegou com cigarro aceso e fumando na primeira, mal conseguir esperar acabar o “sufoco” da distribuição, dos hohohos, dos abraços das crianças e da roupa quente para sair tomando uma latinha de cerveja no meio de todos. Um dos voluntários chegou de carro com musica (?) em alto volume com uma lata de cerveja na mão direita.
As atividades tinham horários marcados e lembrava políticos em campanha eleitoral quando visitam várias cidades no mesmo dia e contam com os coronéis da cidade para preparar as carreatas, fazer um rapído discurso e partir para outra cidade.
Não fiz os meus comentários na hora para não ser chamado de estraga prazer.
Se alguém de vocês ler este texto não fique bravo, revoltado, não se sinta ultrajado pois você é apenas um reflexo da nossa sociedade que tenta tirar o peso da consciência do ano inteiro, quando ao contrário da caravana que buzinava com os vidros abaixados distribundo balinhas para as crianças nas ruas. nos outros dias do ano o carro vai andar com os vidros protegidos pelos ‘insulfimes”, ar refrigerado, ouvindo os brunos e marrones, os netinhos e as bandas mel e ficar receoso toda vêz que vir “um de menor” nos cruzamentos. Não vai mais precisar ir até a periferia com medo. “Aqui se você correr menos de vinte quilometros por hora será assaltado”, não foi isso que disse a mim ao me ver sem sapatos? (deixei-os no carro). Vai continuar preocupado com os seus bens e imóveis. Ao ouvir que nos perdemos e encontramos o grupo ao “optar sempre pela esquerda” para achar o caminho você disse: “Está de vermelho e gosta da esquerda?...já sei”. Fique tranquilo, pois nas eleições de 89 para presidente um dos argumentos usados para convencer os eleitores era de que o Lula fosse eleito vocês teriam que dividir as suas casas. E o que o pais ganhou?. Anos depois, após ser eleito, o Lula não instituiu a prática de “comer criancinhas”, não tomou os seus imóveis e, muito pelo contrário, seguiu a politica econômica continuando com benefícios aos poderosos. Não tenho nada com andar em carros último tipo, com ter situação financeira boa, mas você vai continuar com medo, com medo dos pobres, medo dos índios, medo dos “negrinhos’, medo de quem ideias diferentes das suas. Neste Natal você vais se reunir e comer e beber do bem e do melhor - é isso é bom é ótimo pois afinal é comemoração e, acredite, estou falando sério - sem crise de cons ciência ( a crise de consciência só surgiu no ano que resolveram distribuir um pouco do que tinham). No próximo ano novas crianças, novos “indios” estarão á espera.
Até o próximo Natal

27 novembro 2007

Ao Estado, às feras


ELIANE CANTANHÊDE

Sabe o que mais assusta na história da menina de 15 anos jogada às feras no Pará? É que a delegada, Flávia Pereira, e a juíza, Clarice de Andrade, são mulheres. Sem contar a governadora, Ana Júlia Carepa. Eu adoraria saber se elas têm filhas, se têm cachorros ou gatos. E como os tratam.
Duas mulheres. Uma delegada que deve preservar a segurança e a ordem. Uma juíza responsável pelo cumprimento das leis e pela garantia dos direitos individuais. E ambas conseguem olhar para aquela criança mirrada e infeliz, suspeita de um crime banal, e tratá-la pior do que a um bicho danado.
Quando rapazes de classe média ateiam fogo a um índio que dormia na rua em Brasília e quando outros esmurram uma empregada doméstica num ponto de ônibus no Rio, já é sinal de doença, mas da classe média, das famílias. O que ocorre no Pará é pior: a doença é do próprio Estado, contaminando seus agentes e os cidadãos -por que calaram diante dos gritos desesperados?
A desculpa era que ela seria maior de idade. Ah, bem! Ou que se prostituía. Ah, bem! Então pode? Não, não pode. Seria monstruoso de qualquer jeito. Ter 15 anos, ser pequena e frágil, só torna tudo pior. L., 15, foi largada pelos pais incapazes e pelo tio irresponsável. Vivia pelas ruas. Não é ré, é uma vítima da pobreza e da ignorância. O Estado tinha o dever de salvá-la, mas foi seu pior algoz. Jogou-a às feras, numa cela cheia de homens. Aplicou-lhe queimaduras, fome e violência sexual. A quem recorrer?
Juízes e advogados "finos" de São Paulo e do Rio são ágeis para criticar a polícia por algemar presos grã-finos diante de câmeras de TV. Ou para inundar os jornais defendendo a "decisão técnica" do Supremo que liberou o banqueiro Cacciola para ter um vidão na Europa. E agora, senhores, o que têm a dizer sobre delegadas e juízas capazes de tal atrocidade? Que tipo de punição "técnica" elas merecem?

Sabe o que mais assusta na história da menina de 15 anos jogada às feras no Pará? É que a delegada, Flávia Pereira, e a juíza, Clarice de Andrade, são mulheres. Sem contar a governadora, Ana Júlia Carepa. Eu adoraria saber se elas têm filhas, se têm cachorros ou gatos. E como os tratam.
Duas mulheres. Uma delegada que deve preservar a segurança e a ordem. Uma juíza responsável pelo cumprimento das leis e pela garantia dos direitos individuais. E ambas conseguem olhar para aquela criança mirrada e infeliz, suspeita de um crime banal, e tratá-la pior do que a um bicho danado.
Quando rapazes de classe média ateiam fogo a um índio que dormia na rua em Brasília e quando outros esmurram uma empregada doméstica num ponto de ônibus no Rio, já é sinal de doença, mas da classe média, das famílias. O que ocorre no Pará é pior: a doença é do próprio Estado, contaminando seus agentes e os cidadãos -por que calaram diante dos gritos desesperados?
A desculpa era que ela seria maior de idade. Ah, bem! Ou que se prostituía. Ah, bem! Então pode? Não, não pode. Seria monstruoso de qualquer jeito. Ter 15 anos, ser pequena e frágil, só torna tudo pior. L., 15, foi largada pelos pais incapazes e pelo tio irresponsável. Vivia pelas ruas. Não é ré, é uma vítima da pobreza e da ignorância. O Estado tinha o dever de salvá-la, mas foi seu pior algoz. Jogou-a às feras, numa cela cheia de homens. Aplicou-lhe queimaduras, fome e violência sexual. A quem recorrer?
Juízes e advogados "finos" de São Paulo e do Rio são ágeis para criticar a polícia por algemar presos grã-finos diante de câmeras de TV. Ou para inundar os jornais defendendo a "decisão técnica" do Supremo que liberou o banqueiro Cacciola para ter um vidão na Europa. E agora, senhores, o que têm a dizer sobre delegadas e juízas capazes de tal atrocidade? Que tipo de punição "técnica" elas merecem?

24 novembro 2007

Incidadania

E acontece mais uma vêz, ou melhor, sempre aconteceu e temos a triste história da menina "de menor" presa em uma cela só de homens. Isto só acontece no nordeste dirão uns e concordarão outros. É, o mínimo que se possa dizer, triste e triste demais. Mas convenhamos que não é nada fora do que conhecemos do nosso Brasil. No primeiro mundo e rico estado de São Paulo só não acontecem essas coisas porque tomam um pouco mais de cuidado, a vigilância dos Conselhos Tutelares e a Sociedade Cívil está mais atenta. Quantas vêzes em uma roda de bar, na empresa de uma amigo, de um cliente e lá tem um policial e ouvimos histórias difíceis de aceitar. Uma menina como a que foi presa não passa de uma putinha para os policiais ( em tempo: alguns) e não há de parte desses alguns nenhuma preocupação em dizer issso e até parece que não tem filhas, sobrinhas, irmãs.
E triste, muito triste.

31 outubro 2007

Boa noticia

ELIO GASPARI

Dona Nair queria usar o banheiro do metrô

O pleito da "munícipe" não podia ser atendido, pois faltava "um empregado fixo no posto sanitário"

O TRANSPORTECA é um tipo especial de burocrata. Lida com os transportes públicos, mas não anda de metrô, ônibus ou trem. Para ele, o passageiro chega a ser um estorvo, pois congestiona a malha que tanto aprecia. O transporteca é capaz de confiscar descontos no metrô (São Paulo, 2005) ou de lançar cartão de fidelidade sem bônus (Rio, 2007). Ele sustenta uma briga de seis anos na Justiça para impor a exigência de carteirinha especial para cães-guias de cegos (São Paulo, 2000-2006). O patrono dessa espécie poderia ser o doutor Milton Zuanazzi, da Agência Nacional de Aviação Civil, caso entendesse alguma coisa do assunto, mas foi apenas um leigo articulando o caos.
Um transporteca tucano sustentou que o bilhete único, instituído pela prefeita Marta Suplicy em 2004, seria uma desgraça. Se desse certo, congestionaria a rede pública de transportes. Em outras palavras: se a patuléia usar os ônibus, a cidade se dana.
Com elevados padrões técnicos, o transporteca é capaz de contratar um tatuzão para cavar o buraco de uma linha de metrô subordinando-o à exigência de que seja novo. (Claro, havia um usado disponível no mercado internacional e custaria menos.) No mundo das necessidades cotidianas, ele é um animador do folclore da burocracia.
Um exemplo: em junho passado, o secretário Andrea Matarazzo, da Prefeitura de São Paulo, estava na estação Guaianazes do metrô quando dona Nair Souza Aguiar, uma simples cidadã, contou-lhe que um dos dois banheiros públicos vivia trancado. Matarazzo encaminhou a reclamação da senhora e, no dia 18, a gerência de operações de estações informou:
"A estação possui nos terminais Norte e Sul sanitário público masculino e feminino (...). Atualmente só os sanitários do Terminal Sul estão abertos ao público. Os sanitários do Terminal Norte estão sendo utilizados somente pelos empregados da empresa prestadora de serviços de segurança (Power) há mais de quatro anos, em razão da otimização de custos (energia elétrica, água, potes de limpeza e material domissanitário)."
"Lembramos que elaboramos, recentemente, minuta de resposta (...) ao possível atendimento a uma solicitação feita pelo consórcio Plus, para a abertura dos sanitários (...) desde que seja firmado um Termo de Permissão de Uso, obrigando a interessada [a empresa] a responsabilizar-se pela manutenção, higiene e conservação dos mesmos, além de algumas intervenções necessárias para permitir o uso comum com a empresa de prestação de serviços de segurança. Ainda assim, não seria possível o atendimento do pleito encaminhado pela munícipe srª Nair Souza Aguiar, pela dificuldade em disponibilizar um empregado fixo no posto sanitário."
A choldra pagou pela construção do banheiro, mas ele não poderia ser usado porque foi privatizado para a empresa de segurança. Trata-se de uma instalação bonita, confortável, que deve ter custado um bom dinheiro a gente como dona Nair. Construí-lo foi relativamente fácil, mas botar uma pessoa para cuidar do movimento seria coisa de grande dificuldade.
A boa notícia é que dona Nair ganhou a parada. Seu pleito acabou na mesa do presidente da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos, Alvaro Armond, e o banheiro foi aberto na marra. Transformou-se num estudo de caso para ensinar aos transportecas como se deve trabalhar num serviço público.

24 outubro 2007

Cidadania da reclamação

Sou um assíduo leitor das secções de jornais dedicadas a registrar "a voz" dos leitores e, às vêzes, a gente le "cada uma". Há umas tres semanas uma leitora escreveu protetando contra o atraso em uma viagem de metrô. O trem ficou parado por volta de 20 minutos para, segundo informação da própria leitora, atendimento emergencial de passageiros caidos na linha. O Metrô reconheceu a parada naquele dia e confirmou que era mesmo este atendimento.
Hoje uma leitora escreveu protestando contra o tempo de viagem de mais de uma hora na linha Barra funda- Itaquera, dizendo que os atrasos são normais, que nas outras linhas há preocupação maior do Metrô, que paga a tarifa e tem o direito de ser bem atendida e sugere a privatização para que haja um melhor serviço. A resposta do metrô foi que os passageiros muitas vêzes impedem a saida dos trens ao não permitir que as portas se fechem. Issto pode ser observado todos os dias. Não quero absolutamente fazer a defesa do metrô só acho que as pesssoas exageram no direito de protesto. O nosso metrô é considerado um dos melhores do mundo, atende milhões por dia e tem um índice de aprovação como poucos serviços em nosso país. Acho que essas pessoas não conhecem o metrô, usam de vêz em quando e são absolutamente individualistas, acham que só elas enfrentam dificuldades no transpoorte coletivo. E os outros milões que também sofrem todo dia?. Sou usuário dos transportes coletivos em São Paulo e quanto ao atendimento do metrô não tenho nenhum tipo de comentário negativo.
Seria bom se certas pessoas pensassem um pouco mais no coletivo.

15 outubro 2007

Cidania do celular em sala de aula

Foi aprovado pela Asembléia Legislativa e sancionado pelo Governador o projeto de lei que proibe o uso de celular em salas de aula. Cada um com a sua opinião e a minha observação é sobre a "reclamação" de alguns pais que se sentem tolhidos por não poderem falar com os seus filhos em sala de aula. O pai acha que é normal interromper uma aula, pois quando o filho atende chama a atenção de toda a sala, para falar com seus filhos. Será que não há nenhum tempinho para a conversa, saber como vai na escola, no dia a dia?. Chega à noite e acha normal não conversar com os filhos. Acha normal deixar na mão do professor.

19 setembro 2007

Ainda a cidadania do trânsito.

O próximo sábado, dia 22, é o Dia Mundial sem Carro e as discussões envolvendo trânsito, transporte urbano coletivo e individual, poluição e outros mais estao em todas as mídias e nas conversas das pessoas. O responsável primeiro pelas melhores condições de dirigibilidade é o poder público que tem o dever e poder de adminstrar. Mas também o motorista tem uma parcela de responsabilidade grande demais, não só como cidadão participante das decisões de uma cidade e de um país, mas no dia a dia ao volante. É irritante, ver e principalmente ouvir a falta de civilidade dos motoristas. Totalmente individualistas, imaginan, penso eu, que só eles tem o direito de dirigir. O uso da buzina é fora de qualquer propósito anão ser o de mostrar o poder do motorista ao "tacar a mão" na buzina sem qualquer respeito aos ouvidos dos outros. Por qulquer motivo, seja o farol que está fechado, seja pelo motorista da frente que dá passagem a um pedestre. Apenas comentando o "detalhe" da buzina e deixando para outro dia o desrespeito com as leis do transito, com ultrapssagens, fechadas e outras. O trânsito, e no caso específico de São Paulo, seria outro se os motoristas tivessem um mínimo de respeito e civilidade para com os outros. Por mais crente que seja eu perdi todas as esperanças.

11 setembro 2007

Cidadania das forças conjuntas

A invenção do Morro do Piolho

Quase ninguém conhece o Morro do Piolho. É uma área pobre do norte da cidade de São Paulo, com pouco saneamento básico, que era dominada pelos traficantes, onde os índices de violência faziam dali uma terra de ninguém --mais precisamente, terra dos marginais.
Falava-se que a polícia não entrava por aquelas vielas e escadões devido aos obstáculos geográficos que impedem o fluxo de viaturas. O Morro do Piolho está prestes a sair do anonimato, ao se candidatar a entrar na história como uma escola, de impacto nacional, contra o crime.
Lançou-se em um dos bairros que circulam o Morro do Piolho --o Jardim Elisa Maria-- uma operação contra a violência jamais vista, nem remotamente, no Brasil. Jamais vista porque se articularam secretarias de esportes, educação, justiça, tecnologia, assistência social, transportes, infra-estrutura, saúde e segurança da prefeitura e do governo estadual.
Não há registro de que tenha ocorrido, no país, uma experiência tão complexa por envolver tantos parceiros num mesmo foco --sem falar que junto com a esfera pública arregimentaram-se organizações locais.
Por isso, o Morro do Piolho entra na história contra o crime, devido à complexidade da experiência. Afinal, cuida-se da escola, passando pela iluminação, limpeza dos córregos, postos de saúde, concessão de bolsas de renda mínima, cursos profissionalizantes, até as bases de policiamento comunitário.
Se for um fracasso, ou seja, se depois da saída da polícia voltarem os mesmos índices de criminalidade, teremos de entender como falhou um programa que envolve tanta gente com habilidades tão diferentes e complementares, atuando na repressão e na prevenção. Aprenderemos como não se deve gerir um plano de segurança.
Se der certo, o Morro do Piolho passa a ser a melhor invenção brasileira de um modelo disponível de integração de forças para gerar segurança nas regiões metropolitanas brasileiras.

05 setembro 2007

O cidadão de amanhã.

De cada 5 jovens, 1 não trabalha nem estuda na AL

Índice de desemprego é o triplo do de adultos, diz OIT

THIAGO REIS
JOÃO CARLOS MAGALHÃES

DA AGÊNCIA FOLHA

Um em cada cinco jovens não trabalha nem estuda na América Latina, segundo relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho). Dos 106 milhões de pessoas de 15 a 24 anos da região, 22 milhões estão nessa situação.
O relatório revela ainda que 31 milhões de jovens empregados trabalham em atividades consideradas "precárias".
"Esse dado se refere às pessoas nessa faixa de idade que recebem baixos salários e não têm nenhum tipo de proteção social. É para isso que o estudo quer chamar a atenção: a importância da geração de trabalhos decentes", diz a diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo.
Segundo ela, a realidade é "preocupante". Houve redução do desemprego entre adultos, mas, entre os jovens, ela aumentou. Os dados mostram que 6% dos adultos estão desempregados. Entre os jovens, o índice é quase o triplo: 17%.
Entre os 22 milhões de jovens que não trabalham nem estudam, 72% são mulheres. "O que ainda conta é a divisão sexual, que atribui a elas a responsabilidade pelo trabalho doméstico familiar. Uma parte dessas jovens é mãe. Uma gravidez precoce de uma jovem pobre significa a impossibilidade de ela estudar e trabalhar."
Segundo a OIT, o estudo usou dados de diferentes instituições de cada um dos países para chegar a essas conclusões.
Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, da ONG Instituto Sangari, os jovens que não trabalham nem estudam tendem a se inserir na sociedade via subempregos. "Eles também podem virar migrantes ou imigrantes em busca de oportunidades." Autor do Mapa da Violência, estudo feito para a OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), ele diz que essas pessoas estão num "caldo de cultura da marginalidade e da violência difusa".
Um dado do relatório da OIT que se refere especificamente ao Brasil mostra que há 6,6 milhões de empregadas domésticas no país, na maioria negras, e só 26% têm carteira assinada.
O relatório cita os programas de primeiro emprego de alguns países, mas diz que eles nem sempre funcionam, já que são "interessantes apenas para empresas que contratam os jovens de maneira formal".
No Brasil, após quatro anos, o programa Primeiro Emprego, uma das principais bandeiras da campanha eleitoral de Lula em 2002, não deverá receber verbas a partir do ano que vem.
Já o Prouni é citado na parte que relaciona o estudo à inserção no mercado de trabalho, dizendo que ele "leva educação pública ao interior e combate as desigualdades regionais".

30 agosto 2007

Cidadania das diferenças

Vou comentar, pela primeira vêz, um assunto policial e, acho que é importante dentro do tema da cidadania, das diferentes cidadanias, dos diferentes cidadãos ou simplesmente da cidadania das diferenças. Em 2004 o Promotor de Justiça Thales Ferri Schoedl, matou a tiros um jovem e feriu outro.
Ontem o Colégio de Procuradores do Ministério Público decidiu que permancerá no cargo e será julgado em foro privilegiado que é o Tribunal de Justiça e não, como todos os mortais brasileiros, pelo Tribunal do Juri. Sem entrar em detalhes do crime, sem querer fazer julgamento mas porque o tratamento especial?, observe-se que mesmo antes da decisão continuou recebendo normalmente e sempre livre o seu “salário” que é de R$ 10.500,00. Vai assumir suas funções na cidade de Jales.
Vai dar para confiar no seu trabalho?. Fica difícil de acreditar na Justiça e, entre milhares de fatos, lembro de uma matéria na televisão em que um senhor foi tirar documentos na Policia e lá encontraram um mandado de prisão com o nome deste senhor. Não conferiram documentos e mandaram para a prisão. Detalhe: o condenado era branco e o nosso amigo era preto. A mulher que trabalhava como doméstica foi despedida quando a patroa ficou sabendo da prisão do marido, a vizinhança a olhar com “olhos” estranhos e os filhos passando fome. Quando finalmente conseguiu a liberdade, graças a alguém que pagou um advogado, perguntado o que queria respondeu -”Só quero morrer”. Na prisão foi maltradado, violentado fisica e moralmente. Para ele, pobre e negro, a Justiça foi rápida, e para o promotor, joverm, rico e branco?.

29 agosto 2007

A saúde e os estudantes de medicina.

Vejam as notas da coluna da Monica Bergamo e cada um com a sua opinião.

FAÇA O QUE EU DIGO
Uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer revela que é alto o índice de fumantes entre os estudantes da área da saúde. Foram entrevistados 3.189 alunos de medicina, enfermagem, odontologia e farmácia em várias capitais. No Rio, por exemplo, 16,5% dos estudantes de medicina são fumantes e 37,2% disseram fumar dentro da universidade.

PROIBIDO?
A pesquisa mostra que os estudantes desconhecem as leis que proíbem o fumo em ambientes fechados. Em Florianópolis, a maioria dos alunos de medicina (76,8%), enfermagem (66,7%), odonto (75,3%) e farmácia (74,3%) disse ser permitido fumar em discotecas e casas de show. E apenas 5% dos futuros médicos sabem que é proibido fumar em bares.

28 agosto 2007

Cidadania da preservação

Não acho e, não posso achar, que todos os políticos "não prestam" pois afinal de contas a parcela dos mal intencionados é pequena em qualquer empresa, família, administração pública e outros setores. Infelizmente existem, vão existir sempre e em qualquer parte do mundo, e os seus atos negativos prevalecem em comparação com os atos positivos. Na cidade de São Paulo existe o CONPRESP, conselho municipal do património histórico, encarregado do tombamento e preservação dos bens culturais que tem garantida autonomia para tal. Eis que agora os valorosos edis resolveram mudar as atribuições do Conselho e serão eles os responsáveis pela política de escolha dos locais a serem preservados. Como se já não tivessem tantos projetos de interesse da cidade parados há muitos anos e sem votação. São ágeis na votação de nomes para ruas e logradouros. Parece estar bem claro a influência das grandes construtoras e ai posso achar que a parcela dos mal intencionados está bem ativa.
Publico um artigo assinado por Lúcio Gomes Machado que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, especial para a Folha de São Paulo.


Não contem para o Mário!

São Paulo tem o privilégio de contar com os maiores centros de pesquisa e produção científica, as melhores universidades, os mais importantes conglomerados industriais, comerciais e financeiros do país.
Boa parte desse tesouro foi construída no último século, deixando marcos para sua memória. Não são somente de alguns locais onde ocorreram fatos marcantes de nossa história local ou nacional, mas, sobretudo, marcos desse excepcional desenvolvimento e dos atorescoletivamente, integrando migrantes e imigrantes, numa experiência única de convivência solidária.
Há cerca de 70 anos, Mário de Andrade, deixando de lado sua pequena renda de professor de música, aceita o convite para, ganhando ainda menos, organizar o Departamento de Cultura do Município de São Paulo, no governo de Fábio Prado. Ao lado de intelectuais do porte de Paulo Duarte e Sergio Milliet, traçaria as linhas fundamentais para o entendimento do papel da cultura para formulação das políticas de governo, entre as quais a preservação do patrimônio e da produção artística se destacam.
Arte, história e patrimônio não eram para ele categorias isoladas. Tampouco deveriam centrar-se na produção importada, embora dominasse o que se fazia na Europa. Ao contrário, a produção artística vernacular, os artistas locais e a arquitetura que abrigara o trabalho rural ou urbano eram suas preocupações primordiais.
Espanta ver que, no século 21, personalidades políticas e empresariais, do alto de sua soberba e de sua ignorância, venham dizer que antigos edifícios industriais nada têm de "histórico" ou que a verticalização no entorno de parques ou de bens tombados significa o "progresso". Alegam que imóveis com propostas para verticalização foram comprados a peso de ouro, em razão de sua localização. Mas silenciam sobre qualquer contribuição que tenham feito para a valorização ou a preservação desses monumentos e parques, simplesmente porque nunca o fizeram.
Prosper Merimée, recém-nomeado o primeiro Inspetor dos Monumentos Franceses (1834), dizia que sua função fundamental era "gritar no meio da selvageria". Pois foi o que fez o Conpresp, cumprindo suas funções, com o apoio de instituições como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e diversas entidades de "amigos de bairros".
O prefeito Kassab também tem cumprido seu dever de defender a qualidade da ambiência urbana, sobretudo com o programa da Cidade Limpa.
Falta agora dar passos mais ousados com a valorização de nosso pequeníssimo acervo de edifícios significativos e de parques públicos, além da promoção da produção artística e arquitetônica de qualidade.
Mas, por favor, não contem para o Mário sobre a barbárie que representa o projeto de lei aprovado pela Câmara, que a troco de interesses baixos e mesquinhos, na prática, extingue o Conpresp.
que o tornaram possível, individual ou



22 agosto 2007

Mestre adolescente

Mais um exemplo

GILBERTO DIMENSTEIN

A ADOLESCENTE GREICY KARLA DE FARIA já sabe o que fazer da sua vida profissional: ser professora. Antes de entrar na faculdade, ela entrou involuntariamente em um curso prático sobre como salvar uma escola em estado terminal -e dessa lição sai como uma professora precoce.
Ameaçada de fechamento, a escola pública em que ela estuda arrastava-se numa crise, visível por todos os cantos: alunos em debandada, paredes sujas, desânimo dos professores. Salas de aula vinham sendo entulhadas com material de arquivo. "Eu já estava procurando outro lugar para estudar", conta Greicy. No começo deste ano, integrou um grupo de alunos, ex-alunos, pais e professores dispostos a fazer uma última tentativa para evitar o fechamento da escola estadual Carlos Maximiliano (mais conhecida como Max), em Pinheiros (zona oeste de São Paulo). "Parecia uma causa perdida. A cada dia, mais espaço era tomado para servir de depósito."

Saíram batendo de porta em porta à procura de ajuda por todos os lados -assim, quem sabe, conteriam a debandada dos alunos. Um dos primeiros gestos foi, em mutirão, pintar os muros com cores fortes e alegres. Professores se dispuseram a criar um plantão de dúvidas para recuperar os alunos em português e matemática. Jovens aceitaram ler textos clássicos adaptados ao cotidiano. Especialistas em comunicação montaram programas para o laboratório de informática. Nas salas vazias, ocorrerão agora oficinas de cinema, de dança e de "customização" de roupas. Com doações, um galpão usado como depósito está sendo reformado e se transformará em um teatro também aberto à comunidade. Atores poderão usá-lo desde que façam do palco uma extensão da sala de aula e ajudem a enriquecer o currículo tradicional. Uma orquestra jovem de música erudita já avisou que fará, naquele teatro, concertos abertos para estimular a descoberta de talentos.


Ainda não se sabe se todo esse esforço vai surtir efeito, se os alunos voltarão e, mesmo que voltem, se haverá melhoria de desempenho. Mas, diante de todo esse esforço, a secretária estadual da Educação mandou avisar, no mês passado, que não há intenção de fechar o Max. "Mudou nosso ânimo." Além do ânimo, melhorou a perspectiva de Greicy. Ela foi seduzida pela idéia de ser professora quando, nas férias, deu oficinas de arte a alunos de escolas públicas e, depois, foi monitora em um programa de circo. Com o Max, aprendeu a dar vida a uma escola, misturando os currículos com os saberes locais -é algo que muita gente com pós-graduação só conhece pelos livros.

O melhor estímulo, porém, foi bem mais concreto. Um empresário soube do envolvimento de Greicy no grupo que salvava a escola e ofereceu-lhe uma bolsa para estudar pedagogia.

14 agosto 2007

O que fazer quando....

O que fazer quando...

o cidadão está passando pela faixa de pedestre, que é sua e o sinal está verde, e o motorista avança sem qualquer respeito...; quando o motorista da frente dá passagem para o pedestre e o de tráz "solta a mão na buzina...; quando, por qualquer motivo, o trânsito para, um motorista toca a buzina e todos os que estão atráz também o fazem...; quando o motorista buzina, ofende o pedestre e no carro estão mulher e filhos, estes principalmente assistindo a "aula cívica" do pai...; quando as pessoas "saem" do trem do metrô pela e pára impedindo a entrada de outros...; quando na porta do ônibus e do metrô o passageiro fica na frente e impede a saida de quem vai descer...; quando ônibus e metrô estão com os bancos ocupados por crianças e as mães e pais deixam idosos de pé...; quando está na fila para entra no ônibus ou metrô e um "esperto" entra na frente...

08 agosto 2007

Cidadania da sacola de plástico.

Entre as diversas discussões que envolvem cidadania e meio ambiente parece que a do uso de sacolas plásticas em supermercados, padarias e feiras livres, entre outros estabelecimentos, entra no aspecto mais prático (sem qualquer brincadeirinha). Várias entidades procuram incentivar que o consumidor leve às compras sua própria sacola, que pode ser de pano, de lona ou de outro material reciclável. A Prefeitura de São Paulo vai lançar uma campanha para que o paulistano reduza o uso das sacolas plásticas. Evidente que não é apenas por "decreto", ou mesmo sugestão, que o objetivo será atingido mas o cidadão precisa ter a consciência, junto com os filhos, da necessidade de se "auto contribuir".

30 julho 2007

Novas bibliotecas em estações do Metrô

Uma boa notícia do site do Gilberto Dimenstein

Com o propósito de estimular a leitura e diminuir o analfabetismo funcional, o Instituto Brasil Leitor (IBL) montou em setembro de 2004 a primeira biblioteca dentro de uma estação de metrô paulistana. “Passamos três anos estudando a medida” conta Willian Nacked – presidente da IBL. Até então, os projetos da instituição eram menos ambiciosos, instalando stands de livros em ruas até movimentadas, mas sem a capacidade de atingir um público grande – como os milhões de usuários do metrô.

“Por meio de um estudo que fizemos, soubemos do alto nível de respeito que as pessoas têm pelo metrô”. Com isso, Nacked conta que sentiu segurança em captar recursos para abrir a primeira biblioteca na estação Paraíso.

“Quando eu vi o espaço da biblioteca no Paraíso fui logo ver como era o regulamento para participar”, conta Suzete Piloto Monteiro. Moradora do bairro Conceição, Suzete trabalha como comerciante nas proximidades da estação São Joaquim. “O bom é que a gente pode ficar 10 dias com cada livro, com a possibilidade de renovar duas vezes”. O trajeto casa-trabalho-casa, conta ela, é sempre feito com os olhos grudados nas páginas de algum livro.

“Eu amo leitura, já li mais de 120 obras da biblioteca do Paraíso”, diz entusiasmada. “Se não fosse a biblioteca, não teria condições de comprar todos esses livros”. Suzete tem apenas uma reclamação: quer mais velocidade na atualização da lista dos livros novos. “Como sempre chega livro, eles não têm tempo de atualizar a lista”, queixa-se. “Aí fica difícil de encontrar as obras novas”.

Expansão
Além da estação paraíso, o a IBL já implantou bibliotecas na estação Tatuapé (em 2005) e Luz (em 2006). “E no fim de novembro iremos inaugura a quarta na estação Largo Treze”, revela Nacked. As cidades do Rio de Janeiro e Recife também contam com bibliotecas em estações de metrô.

“Queria poder abrir mais de uma biblioteca por ano”, informa Nacked. “O que motiva é o fato de não enfrentarmos problemas de não devolução”. Segundo o diretor da IBL, apenas 2,1% dos usuários de São Paulo não devolveram os livros emprestados. “Mas muitos desses casos estão ligados às obras infantis; as mães têm medo de devolver porque os filhos rabiscaram as páginas”. Já a cidade do Rio de Janeiro registra melhores índices: nenhuma pessoas deixou de devolver o livro emprestado.

O público cadastrado nas três bibliotecas de São paulo é de 21 mil sócios, sendo que 67,3% são mulheres. Ao total, 11 mil livros estão distribuídos nas três unidades paulistas.

17 julho 2007

Cidania do jovem de amanhã.

Coloquei ontem a notícia do pai que se nega a pagar fiança para libertar o filho, numa possível comparação com o pai do menino que agrediu a doméstica Sueli. Este espaço não é para discussão de notícias de jornais e "julgar" quem está certo ou errado. Quero conversar aqui sobre o cidadão de amanhã, o jovem que não sabe, não quer aprender o que é respeito ao próximo, não ter noções de cidadania, civilidade ou o outro termo mais apropriado. Vamos conversar: será que podemos chamar alguns jovens de hoje de cidadãos do amanhã?.

16 julho 2007

Pai se recusa a pagar fiança para o filho

Este espaço não é para conversarmos sobre educação familiar ou mesmo a educação tradicional dos bancos escolares, até porque não tenho o mínimo preparo para tal. Há poucos dias comentei o ataque dos meninos do Rio à empregada doméstica, que confundiram com uma prostituta, e principalmente a reação de um dos pais que considerou que coisas piorem acontecem e que o filho estuda, tem caráter e não pode ficar com outros marginais. E agora acontece o “outro lado” da discussão com um pai que denunciou o filho e se recusa a pagar fiança para coloca-lo em liberdade. Diz o pai que, por mais doloroso que possa ser, é uma forma de mostrar ao filho que errou e tem que pagar. Fica aberto o espaço para as diferentes opiniões.

Um representante comercial de Londrina (383 quilômetros de Curitiba) decidiu não pagar fiança de R$ 500 para libertar seu filho de 21 anos, preso no domingo por dirigir embriagado, após ser denunciado pelo próprio pai.
Juraci Martins, 54, disse, em entrevista à Folha, querer que o filho aprenda com o erro. Na tarde de domingo, o comerciário Rodolfo Martins, 21, pegou a camionete Silverado do pai sem autorização.
Avisado pela mulher, o pai acionou a Polícia Militar, informando que o filho havia saído com o carro sem permissão. Antes mesmo de ser localizado pela PM, o rapaz perdeu o controle da camionete, bateu em outro carro e derrubou o portão de uma casa.
Caçula de uma família de classe média, o comerciário foi preso em flagrante por dirigir embriagado e sem habilitação. Juraci havia proibido Rodolfo de dirigir, já que a carteira de habilitação do filho estava cassada por infrações de trânsito.
O delegado Joaquim Melo estipulou fiança de R$ 500 para liberar rapaz, mas o pai se recusou a pagar.
Rodolfo foi, então, transferido do presídio central de Londrina para uma delegacia, onde deverá ficar preso até a conclusão do inquérito.

"Responsabilidade"
"Eu amo meu filho. Mas não gosto de coisas erradas, e ele havia sido avisado para não cometer erros. Não quero passar a mão na cabeça dele por cada coisa errada que faz. Desse jeito, ele nunca terá responsabilidade", afirmou o pai.
Rodolfo parou de estudar após concluir o primeiro grau. É o único dos três filhos de Juraci -são mais duas mulheres- que não está na faculdade. "Ele é um bom menino, trabalhador, mas quando bebe e se droga ocorre isso."
A fiança fixada pelo delegado tem prazo de dez dias -após esse período, a polícia pode alterar ou até extinguir a caução. Juraci afirmou esperar que o filho reflita sobre suas ações nesse intervalo. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Apoio à decisão
A promotora da Infância e da Adolescência de Londrina, Edina de Paula, apoiou a decisão do representante comercial.
"Se todo pai tivesse esse tipo de atitude, não teríamos toda essa violência gratuita da juventude", disse a promotora.
De acordo com ela, há uma inversão de valores hoje na sociedade, com pais não impondo limites aos filhos.
"Hoje, por trabalharem fora, os pais assumem uma postura de culpa perante os filhos e esquecem que é preciso estipular limites. A atitude desse pai deve ter sido difícil, mas mostrou que ele se preocupa com o futuro do filho", completou Edina.

Crítica
O mestre em educação Edmilson Lenardão, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e integrante do Conselho de Educação do Paraná, disse ver problemas na reação do pai.
"Ele transferiu para terceiros -no caso, a polícia- um rigor que deveria ser dele. Os pais precisam educar os filhos, não transferir essa obrigação", afirmou Lenardão.
"Ele não pode ser tratado diferente só porque o amo"
Juraci Martins não quis comparar a sua atitude com a do empresário Ludovico Ramalho Bruno, que defendeu prisão especial para o filho acusado, junto com amigos, de roubar e espancar uma doméstica no Rio de Janeiro, no dia 23. Ele disse querer que o filho "reflita para não se tornar bandido".
FOLHA - O pai de um dos presos por espancar e roubar uma doméstica no Rio pediu prisão especial ao filho. O sr. tomou posição diferente. Dá para comparar os casos?
JURACI MARTINS - Não. Meu filho não roubou e não atacou ninguém. Quero que meu filho reflita para não se tornar bandido também. É dolorido, mas costumamos achar que as coisas só acontecem com os outros. Quando a casa cai, a gente tem de agir com cidadania, não é porque é nosso filho que tem de ser tratado diferente.
FOLHA - Seu filho está preso com outras pessoas. O sr. se preocupa?
MARTINS - Claro. Eu e minha mulher tentamos agüentar, mas é difícil. Meu filho não pode ser tratado diferente só porque nós o amamos. Os outros presos têm pais também. É um período de provação.
FOLHA - Como os parentes viram sua decisão?
MARTINS - Minhas outras filhas, que vivem em Curitiba, estão dando todo o apoio. Parentes também. Mas não é fácil. Ele é um bom menino, trabalhador, mas andou por caminhos errados. É preciso assumir as responsabilidades pelos seus atos.

11 julho 2007

Cresce lista de trabalhadores em condição degradante

Deu na Folha e, sem comentários. Não é necessário

JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério do Trabalho divulgou ontem a nova lista de empresas e empregadores flagrados submetendo trabalhadores a condições precárias. Essa é a oitava versão da chamada "lista suja", que alcançou um número recorde: 192. A relação anterior contava com 163.
Segundo a secretária de Inspeção do Trabalho, Ruth Vilela, a nova lista traz 51 novos nomes e revela que o Estado de Santa Catarina é um novo foco de trabalho degradante.
Em relação à versão anterior da lista, publicada em dezembro, houve a exclusão de 22 nomes. A secretária explicou que a retirada de estabelecimentos da lista ocorre depois de dois anos. Durante esse período, as empresas não conseguem obter empréstimos em bancos públicos e privados nem acesso a recursos de fundos públicos.
O ministério assinou um pacto com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para conseguir o apoio das instituições privadas. Vilela relata que a pecuária é o setor campeão no emprego desse tipo de mão-de-obra. "Não é exatamente no trabalho com o gado, mas na preparação do pasto", conta. Pará e Mato Grosso continuam sendo os maiores redutos do trabalho degradante.
Ela reconheceu que estabelecimentos ligados à produção de álcool fazem parte da "lista suja". O Brasil vem sendo apontado por parceiros comerciais de usar mão-de-obra escrava na produção do etanol, o que irritou o governo. "Pelo menos não escondemos isso para debaixo do tapete", afirma a secretária.

05 julho 2007

Quadrilhas de canalhas


Contardo Calligaris

Está com medo de tornar-se doméstica ou prostituta? Bata em pobres, índios e putas.
Em poucas linhas, na Folha de sexta, dia 29 de junho, Eliane Cantanhêde descreveu perfeitamente o mundo no qual é possível que rapazes de classe média queimem um índio pensando que é "só um mendigo" ou espanquem uma mulher pensando que é "só uma prostituta". Provavelmente, não teria sido muito diferente se eles tivessem pensado que era só uma empregada doméstica.

É um mundo em que a permissividade é o melhor remédio contra a inevitável insegurança social. Nesse mundo, os pais fazem qualquer coisa para que seus rebentos acreditem gozar de um privilégio absoluto; esse é o jeito que os adultos encontram para acalmar sua própria insegurança, para se convencer de que eles mesmos gozam de privilégios garantidos e incontestáveis. Como escreveu Maria Rita Kehl no Mais! de domingo passado, nesse mundo, aos inseguros não basta ser cliente, é preciso que eles sejam clientes especiais.
Uma classe média insegura é o reservatório em que os fascismos sempre procuraram seus canalhas. Você está com medo de perder seu lugar e, de um dia para o outro, tornar-se índio, mendigo ou empregada doméstica? Pois é, pode bater neles e encontrará assim a confortável certeza de seu status. Aos inseguros em seu desejo sexual, aos mais apavorados com a idéia de sua impotência ou de sua "bichice", é proposto um remédio análogo. Você provará ser "macho" batendo em "veados" e prostitutas.
Há mais um detalhe: a inteligência humana tem limites, a estupidez não tem. Essa diferença aparece sobretudo no comportamento de grupo. Imaginemos que a gente possa dar um valor numérico à inteligência e à estupidez. E suponhamos que o valor médio seja dois. Pois bem, três sujeitos mediamente inteligentes, uma vez agrupados, terão inteligência seis. Com a estupidez, a coisa não funciona assim: a estupidez cresce exponencialmente. A soma de três estúpidos não é estupidez seis, mas estupidez oito (dois vezes dois, vezes dois). Quatro estúpidos: estupidez 16. Cinco: estupidez 32.
Curiosamente, essa regra vale até chegar, mais ou menos, a um grupo de dez. Aí a coisa tranca: a partir de dez, torna-se mais provável que haja alguém para discordar da boçalidade ambiente. Não porque, entre dez, haveria necessariamente um herói ou um sábio, mas porque, num grupo de dez, quem se opõe conta com a séria possibilidade de que, no grupo, haja ao menos um outro para se opor junto com ele.
Esse funcionamento, por sua vez, decai quando o grupo se torna massa. É difícil dizer a partir de quantos membros isso acontece, mas não é preciso que sejam muitos: um grupo de linchamento, por exemplo, pode desenvolver toda sua estupidez coletiva com 20 ou 30 membros.
Em alguns Estados dos EUA, é permitido dirigir a partir dos 16 anos. Mas, em muitos condados desses Estados, vige uma lei pela qual um jovem, até aos 21 anos, só pode dirigir se houver um adulto no carro. Pouco importa que esse adulto seja habilitado a se servir de um carro. O problema não é a perícia do motorista, mas o fato estatístico de que três, quatro ou cinco jovens num mesmo carro constituem um perigo para eles mesmos e para os outros: o grupo de "amigos" potencializa a estupidez de cada um, muito mais do que sua inteligência. Talvez seja por isso, aliás, que, para o legislador, a formação de quadrilha é um crime em si.
Qualquer pai de adolescente reza ou deveria rezar para que seu filho encontre rapidamente uma namorada e passe a sair na noite com ela, não com a turma dos amigos. Pois a turma é parente da gangue.
Como se sabe, o pai de um dos cinco jovens que, na madrugada do dia 23 de junho, na Barra da Tijuca, espancaram Sirlei Dias de Carvalho Pinto, comentou, defendendo o filho: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?". É o desespero de quem sente seu privilégio ameaçado: como assim, tratar a gente como qualquer um?
Não éramos "clientes especiais"?
Mas as frases revelam também a distância entre o filho que o pai conhece em casa (o filho que teria "caráter") e o filho que se revela na ação do grupinho (esse filho não tem "caráter" algum).
O que precede poderia ser entendido como uma atenuante, tipo: eles agiram assim não por serem canalhas, mas por estarem em grupo. Ora, cuidado: o grupo não produz, ele REVELA os canalhas.

03 julho 2007

Ação flagra trabalhadores em "situação degradante"

Trechos de matéria de jornal e sem comentários: totalmente desnecessário.

A fiscalização do Ministério do Trabalho flagrou 1.108 cortadores de cana-de-açúcar submetidos a condições degradantes de trabalho numa propriedade da empresa Pagrisa (Pará Segundo a PGT (Procuradoria Geral do Trabalho), foi o maior resgate já realizado pela fiscalização do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, formado por fiscais do ministério e agentes da Polícia Federal, acompanhados de procuradores do Trabalho.
Até então, o maior flagrante de trabalho degradante feito pela fiscalização do grupo havia ocorrido em junho de 2005, na destilaria Gameleira, em Confresa (MT), quando 1.003 trabalhadores foram libertados.
Segundo o coordenador do grupo móvel que fiscalizou a Pagrisa, Humberto Célio Pereira, os trabalhadores estavam alojados em quartos apertados e malcheirosos, nos quais se "amontoavam um sobre os outros". A fiscalização encontrou esgoto sendo despejado na represa usada pelos trabalhadores para lavar roupa e tomar banho, falta de banheiros e de espaço adequado para alimentação nos locais de trabalho.
Os empregados relataram que a comida fornecida pelo empregador era azeda e vários trabalhadores estavam doentes, com náuseas e disenteria.
A fiscalização encontrou casos de trabalhadores que recebiam menos de R$ 10 de salário por mês devido a descontos indevidos de alimentação e remédios. "Eles ficavam sem condições de sair do local por causa das dívidas e porque não tinham dinheiro. A maioria veio do Maranhão e do Piauí e estava numa situação muito degradante", disse Pereira.
Segundo depoimento dos trabalhadores aos fiscais, os recrutamentos começaram há cerca de seis meses.
Os responsáveis pela empresa poderão ainda responder a uma ação por dano moral coletivo na Justiça do Trabalho.
A Pagrisa é a maior produtora de álcool do Pará, onde está instalada desde 1967.

02 julho 2007

"Um cara desses"

ELIANE CANTANHÊDE



BRASÍLIA - Quando os filhos são pequenos, chutam a canela da empregada, e os pais acham "natural", fingem que não vêem. Já maiores um pouco, comem o que querem, na hora em que querem, não falam nem bom-dia para o porteiro e desrespeitam a professora. Na adolescência, vão para o colégio mais caro, para o judô, para a natação, para o inglês e gastam o resto do tempo na praia e na internet. Resolvido.
Dos pais, ouvem sempre a mesma ladainha: o governo não presta, os políticos são todos ladrões, o mundo está cheio de vagabundos e vagabundas. "E quero os meus direitos!" Recolher o INSS da empregada, que é bom, não precisa.
É assim que os filhos, já adultos, saudáveis, em universidades, são capazes de jogar álcool e fósforo aceso num índio, pensando que era "só um mendigo", ou de espancar cruel e covardemente uma moça num ponto de ônibus, achando que era "só uma prostituta".

A perplexidade dos pais não é com a monstruosidade, mas com o fato de que seu anjinho está sujeito -em tese- às leis e às prisões como qualquer pessoa: "Prender, botar preso junto com outros bandidos?
Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?", indignou-se Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens, 19.
Dá para apostar que ele votou contra o desarmamento, quer (no mínimo) "descer o pau em tudo quanto é bandido" e defende a redução da maioridade penal. Cadeia não é para o filho, que tem estudo e dinheiro, um futuro pela frente. É para o garoto do morro, pobre e magricela, que conseguir escapar dos tiroteios e roubar o tênis do filho.
Isso se resolve com o Estado sendo Estado, com justiça, humanidade e educação -não só com ensino para todos e professores mais bem treinados e mais bem pagos, mas também com a elementar compreensão de que "o problema", e os réus, não são os pobres. Ao contrário, eles são as grandes vítimas.








29 junho 2007

Navegar é preciso


Na década de 50 a expctativa de vida para as mulheres era de 60 anos. Com tudo de bom que o modernimo nos oferece a expectativa hoje é outra e a atenção com os os membros da "melhor idade" é grande por parte de entidades governamentais e particulares em oferecer as condições de um a vida digna, inclusive com a oportunidade de passar aos mais jovens a sua experiência de vida. E o exemplo mostrado pelo Gilberto Dimensteim é maravilhoso dos dois lados da troca.


Aos 80 anos, Chloé Siqueira decidiu virar professora e dar aulas de internet a crianças de quatro a sete anos
A O APRENDER A compor o fundo da tela de seu computador, Chloé Siqueira escolheu uma imagem que lhe parecia transgressora -a famosa foto dos Beatles caminhando pela faixa de pedestres numa rua de Liverpool. É assim que ela própria se sente diante de um computador: aos 80 anos, decidiu virar professora e dar aulas de internet a crianças. "A internet é, para mim, o prazer da conexão humana", resume. Se já é incomum alguém continuar estudando na terceira idade, mais inusitado ainda é começar a dar aulas depois dos 80 anos, quando os professores já estão, há muito tempo, aposentados.
O que ela não supunha é que a sua experiência ganharia escala mundial -isso é o que vai acontecer a partir de hoje.
Formada em Ciências Sociais pela PUC, Chloé nunca parou de estudar. Fez cursos de enfermagem, música, canto, flauta. Por alguns meses, dedicou-se a aprender sobre a vida e a obra de Beethoven. Aposentada como assistente social da Secretaria Estadual da Saúde, tornou-se voluntária do Hospital das Clínicas.
Atualmente, ela não só pratica alongamento e musculação como também participa do coral do shopping Eldorado. "Não tomo remédios, apenas cápsulas de soja", orgulha-se. Há cinco anos, Chloé soube por uma neta que, se quisesse, poderia fazer um curso para aprender a navegar na internet. "Eu tinha até medo de usar teclado." Em pouco tempo, ajudada por adolescentes que estudavam em escolas públicas e privadas, ele já estaria conversando pelo Skype e pelo Messenger com os netos e com alguns amigos que moravam fora do Brasil. Além disso, já usava a rede para fazer compras.
Sua melhor navegação, porém, não foi virtual, mas presencial.
Começou a dar aulas de internet para crianças de quatro a sete anos. "Parece que as crianças de hoje já nascem com um chip na cabeça." Mas Chloé adicionou às aulas vivências de sua infância, combinando os efeitos na tela do computador com histórias e fantoches que ela própria produz. "É como se eles vissem a avó deles brincando com a informática." A brincadeira acabou em coisa séria. Uma empresa americana que produz chips acabou descobrindo a experiência de adolescentes ensinando internet a idosos, que, por sua vez, ensinam crianças. Resolveu fazer um manual, com lançamento previsto para hoje, a fim de replicar o programa em todo o mundo.
Na sua animação, Chloé está vendo nessa disseminação uma oportunidade -a de se comunicar, em dimensão planetária, com idosos que, como ela, fazem da internet uma sala de aula. "Aprendi que, na rede, posso encontrar de tudo um pouco." Não foi só a sensação de travessia constante que a fez colocar na tela aquela foto dos Beatles. Sua maior paixão é a música -e há pouco tempo ela descobriu que poderia, dentro de seu computador, ter a maior discoteca do mundo.

27 junho 2007

O cidadão de amanhã.

Postei comentários e trechos de reportagem referentes a agressão feita a Sirlei Dias de Carvalho com a intenção de comentar dentro do assunto cidadania. “Deslizes” da juventude são absolutamente normais no passado, no presente e no futuro do ser humano mas existem “deslizes” e “deslizes” e a participação dos pais na formação do futuro cidadão neste momento é fundamental. Não quero que a juventude de hoje seja educada nos mesmos moldes da minha educação – há décadas – mas algum ,o básico, tem que ser mantido e não é o que estamos vendo hoje. O pai, e sempre repito, tem todo o direito, dever e a responsabilidade de defender os atos dos filhos mas com uma certa “parcialidade”. Não pode dizer que não tem culpa, que são crianças e que a Sirlei por ser mulher tem a pele mais sensível e uma “pequena agressãozinha” deixa marcas mais fortes. Bater em homens, de preferência pobres e fracos, é válido?. Diz um dos pais que são crianças e não podem ficar presos e a pergunta: se fossem filhos dos empregados e morassem na periferia podem ficar presos?. E o direito à cidadania de todos?. A violência é só a dos outros e principalmente de pretos e pobres?. Quando está dentro do carro com a família e xinga, ofende, desrespeita sinais não está dando o exemplo aos filhos, “às crianças”. Não estão aprendendo a lição dos pais?.

Abaixo um texto da psicanalista Anna Veronica Mautner para reflexão, publicado hoje na Folha.

ANÁLISE

Barbárie à vista?

ANNA VERONICA MAUTNER
COLUNISTA DA FOLHA

Os pais, como todos os adultos, são sim responsáveis pelas violências perpetradas por jovens, que ocorrem cada vez com maior freqüência.
Somos todos culpados ou pelo menos temos a ver com o que está ocorrendo. Deixamo-nos influenciar, sem reagir, pelos efeitos da difusão de uma psicanálise fora do contexto.
Se não estivéssemos imbuídos da idéia de que a origem do erro está lá atrás, na infância, como culpar pais, monitores, babás só por terem acreditado na falácia de que dor, desconforto, vergonha, humilhação etc. são sempre letais ao ego em formação e por isso devem ser evitados a qualquer preço?
O lema é: ninguém deve se ressentir de nada, muito menos seres em formação devem ser magoados. A conseqüência dessa ideologia de tortas raízes vai, passo a passo, gerando seres incapazes de empatia, incapazes de reconhecer o outro como seu semelhante.
Pouco familiarizados com dores, vão infligi-las, sem saber o quanto vai doer. Quero dizer que é preciso sentir que a vergonha, por exemplo, que me machuca, machuca ao outro também. Assim, se eu quiser, até posso humilhar alguém. Mas pelo menos sei o que estou fazendo. E posso calcular a intensidade que eu quero. Quando superpreservamos crianças e jovens de todo medo, de toda frustração, de qualquer fracasso, da humilhação e da vergonha, estamos impedindo que aprendam o quanto dói uma saudade, um fora, uma pancada.
Quando diante de alguém diferente, um outro, desconhecido, de outra galera, ignoramos o que eles têm de semelhante a nós, a agressividade e a violência encontram um campo fértil para aparecer. É aí, onde as pessoas se estranham, que aparecem vigorosos os maus colegas, o mau patrão, o mau chefe e o violento em geral.
Quando alguém se sente ameaçado, reage. É natural. O que surpreende é a discrepância entre estímulo e resposta. E mesmo que ele estranhe algumas coisas nesse outro, existem entre dois seres humanos mais semelhanças do que diferenças. A violência desabrocha onde as pessoas se estranham. Quando estranhamos, pomo-nos a espernear, a bater, para eliminar o ameaçador. A violência é sempre uma resposta ao medo do desconhecido. Quando se transforma em brincadeira, leviandade, estamos diante de uma patologia. Juntando que as novas gerações foram preservadas da maioria dos desconfortos naturais da vida, é natural que tenham muito mais medo de tudo o que é estranho, já que conhecem muito menos do que seria desejável.
Quem estranha muito tem muito medo e perde fácil a estribeira. Estamos a um passo da violência. Barbárie à vista?

ANNA VERONICA MAUTNER é psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e colunista da Folha

26 junho 2007

Sirlei Dias Carvalho Pinto

Comentei ontem o espancamento da Empregada Doméstica, por jovens da classe média alta, no Rio de Janeiro e também que acontece em qualquer cidade brasileira. Fui extremamente compassivo com os pais - em respeito - mas ao ouvir e ler as declarações de um deles e a “justificativa” dos garotos (?) não consigo ficar em silencio. Dizem que confundiram com uma prostituta e, daí cara pálida, prostituta é animal e pode ser agredida covardemente? e ainda ser agredida ao mesmo tempo por cinco “homens”?. E vem o pai e diz - não vou colocar entre aspas - eles não são bandidos. queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa nisso. eles cometeram erro? cometeram. mas não vai ser justo manter crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham, presos. é desnecessário, vai marginalizar lá dentro. foi uma coisa feia que eles fizeram? foi. não justifica o que fizeram. mas prender, botar preso, juntar eles com outros bandidos... essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses? existem crimes piores.
Vejam só: não tem culpa pela educação que deu ao filho, não acha justo
mante-lo preso. "não justifica juntar com outros bandidos" – ai ele acertou – "e manter junto com caras desses" – os marginais -. E, no momento, pergunto eu qual a diferença entre o filho e os marginais?. Os deslizes da juventude são absolutamente normais em menor ou menor grau de ofensa à sociedade mas tem que servir de lição.

Diz mais: - não é justo prender cinco jovens que estudam, que trabalham, que têm pai e mãe, e juntar com bandidos que a gente não sabe de onde vieram. imagina o sofrimento desses garotos.
É demais ouvir estas afirmações. E pergunto: e se fossem os filhos de sua empregada você teria a mesma reação?, pois mesmo os filhos de empregados você provavelmente não sabe de onde vem e nem quer saber.
As declarações da Empregada Doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto:
"Quero que se faça justiça”. "Eu quero que eles paguem, não sei como", "Mesmo que [as outras mulheres que estavam no ponto de onibus] fossem prostitutas, não tinham que fazer [as agressões]". "Foram muitos chutes, pontapés, socos, cotoveladas”. "Coloquei para proteger o rosto, mas eles ficaram chutando o meu braço."

25 junho 2007

Jovens de classe alta são acusados de agredir doméstica

Quando eu fico aqui repetindo que respeito ao próximo se aprende em casa e que essa educação vai influir no modo de agir do futuro cidadão não quero em absoluto dar “lição de moral” a ninguém e especificamente a pais já que não tenho qualquer experiência direta “na área”. Mas a notícia de que uma empregada doméstica foi agredida por cinco jovens de classe alta do Rio de Janeiro – e vale para qualquer cidade brasileira - pede uma reflexão. Muitas vêzes os pais não tem culpa pois acham que dando aos filhos o que não puderam ter quando eram jovens “liberam a geral” e deixam acontecer sem colocar nenhum tipo de contra partida aos filhos. É muito triste.

A empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, 32, foi espancada e roubada na madrugada de domingo (24) por cinco jovens na zona oeste do Rio de Janeiro. Os suspeitos são moradores de condomínios de classe alta na Barra da Tijuca, também na zona oeste. Três deles foram presos e dois continuam foragidos.

Sirlei relatou à polícia que estava em um ponto de ônibus da avenida Lúcio Costa, na Barra, perto do apartamento onde trabalha e mora, por volta das 4h30 --ela tinha saído cedo para ir a uma consulta médica--, quando cinco rapazes desceram de um Gol preto.

Os jovens começaram a xingá-la, arrancaram a sua bolsa e começaram a chutá-la na cabeça e na barriga. A agressão foi testemunhada por um taxista que passava pelo local.

Eles também são acusados de ter levado pertences de Sirlei, como o telefone celular e a carteira, que tinha R$ 47.
Após a agressão, Sirlei Pinto conta que foi até a casa onde trabalha e pediu socorro.

Pelo número da placa do Gol, anotada pelo taxista, a polícia localizou Felipe Macedo Nery Neto, 20, estudante de direito.
Ele foi preso e, segundo a polícia, confessou a agressão e forneceu os nomes dos outros quatro acusados.

A partir das informações fornecidas por Nery Neto, foram presos Leonardo de Andrade, 20, técnico de informática, e Júlio Junqueira, 21, estudante de direito.

Na delegacia, Sirlei reconheceu os agressores, depois de ter recebido atendimento médico no hospital Lourenço Jorge, que fica na Barra.

Em depoimento, de acordo com a polícia, os rapazes detidos confessaram as agressões a Sirlei, mas não disseram o motivo da violência.

Os jovens afirmaram que estavam voltando de uma festa, mas, segundo o delegado, não estavam alcoolizados nem drogados. Foi encontrada dentro do carro uma garrafa de metal usada para colocar bebidas.

Os familiares dos jovens presos que estiveram na delegacia não quiseram dar entrevistas e se negaram a comentar as acusações da doméstica.

21 junho 2007

O jeito é apelar ao Vaticano

Como o tema deste blog é Cidadania tenho “falado” aqui do desrespeito ao cidadão no transito e, como não temos como “apelar ao Bispo”, agora podemos tentar seguir os Mandamentos do Motorista criado pelo Vaticano.
Em 36 páginas, o documento chama atenção para o número de mortes em acidentes -1,2 milhão por ano, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde)- e apresenta o ato de conduzir, e tudo que o envolve, como uma questão moral: "Dirigir quer dizer controlar-se".
O Vaticano tece recomendações após alertar para o lado "primitivo" que tende a aflorar nos condutores e se reflete na profusão de "gestos ofensivos" e "blasfêmias" no trânsito e diz que o objetivo do inusual documento, principalmente pela presença do decálogo, é contribuir para a educação dos motoristas. "Pode ser um pouco irreverente, mas não é um sacrilégio", diz Thomas Williams, padre e teólogo da universidade Regina Apostolorum, em Roma.
Além de cometer impropriedades no transito agora o motorista também pode cometer pecados

1 - Não mate.
2 - A rua deve ser para você um meio de comunhão com as pessoas e não uma arma mortal.
3 – Cortesia, correção e prudência vão ajudá-lo a lidar com eventos imprevistos.
4 – Seja caridoso e ajude seu próximo em necessidade, especialmente vítimas de acidentes.
5 – Os carros não devem ser uma expressão de poder e dominação e nem uma ocasião para o pecado.
6 – Convença de maneira caridosa os jovens e os não tão jovens a não dirigir quando não estejam em condição apta a fazê-lo.
7 – Ajude as famílias dos acidentados.
8 – Reuna motoristas culpados e suas vítimas, em um momento apropriado, para que eles possam passar pela experiência libertadora do perdão.
9 – Na rua proteja a parte mais vulnerável.
10 – Sinta-se responsável com o próximo

31 maio 2007

Uma boa noticia.

Da coluna da Monica Bergamo


Fumódromo

O Brasil é um dos países mais bem-sucedidos do mundo na guerra contra o cigarro: um estudo feito pela USP, que será publicado em julho no Boletim da Organização Mundial de Saúde, mostra que o número de fumantes no país caiu 35% num intervalo de 14 anos: 34,8% dos brasileiros fumavam em 1989, contra 22,4% em 2003. A queda, de 2,5% ao ano, é considerada "excepcional" se comparada às de outros países: 0,7% nos EUA, 0,6% no Japão e 0, 8% no Reino Unido.


FUMÓDROMO 2

O percentual de fumantes no Brasil (22,4%) é semelhante ao dos EUA (20,8% em 2004), e do Canadá (20% em 2005). E menor que o da Argentina (40% em 2000). Coordenado pelo professor Carlos Monteiro, da USP, o trabalho tem como base pesquisa feita pelo IBGE em 1989 e outra, de 2003, realizada pela OMS/ Fiocruz, além de estudos feitos no mundo todo em período semelhante.


FUMÓDROMO 3

Um dos motivos apontados pelos estudiosos para a queda é o programa de restrição à propaganda de cigarro na TV, além da proibição de fumar em locais públicos. Nas conclusões, o trabalho propõe medida mais radical: o aumento do preço do produto, para inibir o consumo entre os que têm menor poder aquisitivo. De acordo com os números, a taxa de fumantes entre os que têm menor renda e escolaridade, de 27%, é bem mais alta que entre os mais ricos e escolarizados: 15%.


29 maio 2007

Para acabar com o nosso bom humor

Reportagem da Folha para fazer a gente pensar um pouco sobre as condições de trabalho no nosso Brasil.

Empresas incentivam combate à escravidão

Pecuária bovina, cana, soja e algodão são as culturas que mais usam escravos, especialmente nas bordas da região amazônica
A pressão das grandes companhias em suas cadeias produtivas, especialmente com fornecedores, começa a surtir efeitos no combate ao trabalho forçado no Brasil. Às vésperas do aniversário de dois anos do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, três dos maiores frigoríficos do país se comprometeram a cortar relações comerciais com empresas presentes na "lista suja" do Ministério do Trabalho.
Instituída em fins de 2003, a "lista suja", atualmente com 162 nomes (todos de propriedades rurais), relaciona empresas flagradas com trabalho escravo. A inclusão só acontece após o fim do processo aberto pelo auto da fiscalização, ou seja, após o direito de defesa ser exercido pelos acusados.
As empresas permanecem na lista por dois anos e saem se pagarem as multas resultantes da fiscalização, quitarem todos os débitos trabalhistas e previdenciários e não reincidirem no crime. Bancos federais podem barrar empréstimos de recursos públicos, e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) está aconselhando seus associados a fazerem o mesmo.
E os signatários -ABN Amro, Carrefour, grupo Rosset, Belgo-Mineira e Suzano, entre outros- do Pacto se comprometem a erradicar o crime em suas cadeias produtivas.

Corte na carne

A pecuária bovina é o setor econômico com maior presença na "lista suja" e, até este mês, dos 19 frigoríferos identificados como compradores de produtos oriundos de trabalho escravo, nenhum havia se comprometido a cortar relações com as fazendas acusadas.
A situação mudou depois que o Wal-Mart cortou contrato com o abatedouro Frinorte, do Tocantins, porque a empresa, mesmo depois de alertada, continuou comprando carne de uma fazenda reincidente em trabalho escravo, e convocou seus outros fornecedores para pedir adesão ao esforço.
O Friboi, maior frigorífico do Brasil, e o Redenção, maior do sudeste do Pará, que compravam mercadorias de fazendas flagradas detendo trabalhadores, assinaram. "A cadeia [produtiva] começa a agir assim, quando alguém cobra em uma ponta, como fez o Wal-Mart", diz Roberto Fontana, diretor de vendas de carne "in natura" do Friboi. Já o Frigorífico Bertin, o segundo maior abatedouro e o primeiro em exportação de carne do Brasil, cedeu à pressão do Banco Mundial, seu financiador (a empresa recebeu, em março, empréstimo de US$ 90 milhões), e também assinou.
O cientista político Leonardo Sakamoto, coordenador da ONG Repórter Brasil e autor de tese de doutorado sobre a "reinvenção" da escravidão pelo capitalismo, diz que a presença de escravidão e servidão por dívidas no Brasil deixa os exportadores brasileiros vulneráveis a sanções internacionais por alegadas razões humanitárias. A ONG foi responsável pelo mapeamento da escravidão nas cadeias produtivas do país.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima que o número de vítimas de trabalho forçado, excluindo exploração sexual, seja de 7,8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil o contigente é de cerca de 25 mil pessoas (zona rural), número que está em revisão.
No Brasil, a maioria é de homens com idade entre 18 e 44 anos, analfabetos ou com até dois anos de estudo; 85% deles começaram a trabalhar antes dos 12 anos.
A maior parte desses trabalhadores vem sobretudo do Maranhão ( 39,2%), Piaui (22%), Tocantins (15,5%), Pará ( 8,5%), Goiás (4,2%) e Ceará (3,8%); dos resgatados entre 2003 e 2007, 33.347 vieram do Maranhão e 1051 do Pará.

07 maio 2007

Evento mostra vontade de retomar as ruas

Transcrevo mais um texto do Gilberto Dimenstein na Folha que é bem aquilo que eu senti durante as horas, as caminhadas e com a alegria e a disposição dos moradores de São Paulo provando que é possível a convivência em comunidade e saber que a utopia do termo cidadania ainda pode tornar-se realidade.

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Passei boa parte da madrugada caminhando pelas ruas do centro, menos preocupado em assistir aos shows do que apreciar a movimentação das tribos.
Numa cidade tão temerosa de suas ruas, retalhada em guetos que diziam a idéia de espaço público, o burburinho humano me parecia muito mais interessante do que qualquer espetáculo -o paulistano não está habituado a manifestações públicas de alegria, tamanha a violência que vivemos.
Senti uma certa irrealidade, como se voltasse no tempo quando, menino, caminhava sem medo pelas ruas do centro, encantado com a elegância das lojas ou com a animação das livrarias e cinemas.
A selvageria que ocorreu na praça da Sé é, certamente, um episódio isolado, provocado por um grupo de arruaceiros, um minúsculo ponto da gigantesca paisagem humana dos que se divertiam ouvindo rock, rap, boleros, sambas, repentes. Fala-se que a Virada Cultural teria atraído 3,5 milhões de pessoas, mas os arruaceiros que ganharam as manchetes não seriam mais do que 30 jovens. Sob esse aspecto, o evento seria um sucesso.
Os arruaceiros, porém, me trouxeram à realidade paulistana, ou melhor, à nossa tragédia metropolitana, na qual eles são exércitos de seres agressivos, ressentidos, sempre à espera de um pretexto para explodir, seja ele qual for; uma letra de música de Mano Brown ou a inabilidade policial.
A Virada Cultural são 24 horas de festa e revela mais do que um evento cultural, mas uma vontade de reconquistar as ruas e não nos fazer uma comunidade de acuados; a selvageria nos tira a ilusão de como essa tarefa é um desafio de toda uma geração.