28 agosto 2007

Cidadania da preservação

Não acho e, não posso achar, que todos os políticos "não prestam" pois afinal de contas a parcela dos mal intencionados é pequena em qualquer empresa, família, administração pública e outros setores. Infelizmente existem, vão existir sempre e em qualquer parte do mundo, e os seus atos negativos prevalecem em comparação com os atos positivos. Na cidade de São Paulo existe o CONPRESP, conselho municipal do património histórico, encarregado do tombamento e preservação dos bens culturais que tem garantida autonomia para tal. Eis que agora os valorosos edis resolveram mudar as atribuições do Conselho e serão eles os responsáveis pela política de escolha dos locais a serem preservados. Como se já não tivessem tantos projetos de interesse da cidade parados há muitos anos e sem votação. São ágeis na votação de nomes para ruas e logradouros. Parece estar bem claro a influência das grandes construtoras e ai posso achar que a parcela dos mal intencionados está bem ativa.
Publico um artigo assinado por Lúcio Gomes Machado que é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, especial para a Folha de São Paulo.


Não contem para o Mário!

São Paulo tem o privilégio de contar com os maiores centros de pesquisa e produção científica, as melhores universidades, os mais importantes conglomerados industriais, comerciais e financeiros do país.
Boa parte desse tesouro foi construída no último século, deixando marcos para sua memória. Não são somente de alguns locais onde ocorreram fatos marcantes de nossa história local ou nacional, mas, sobretudo, marcos desse excepcional desenvolvimento e dos atorescoletivamente, integrando migrantes e imigrantes, numa experiência única de convivência solidária.
Há cerca de 70 anos, Mário de Andrade, deixando de lado sua pequena renda de professor de música, aceita o convite para, ganhando ainda menos, organizar o Departamento de Cultura do Município de São Paulo, no governo de Fábio Prado. Ao lado de intelectuais do porte de Paulo Duarte e Sergio Milliet, traçaria as linhas fundamentais para o entendimento do papel da cultura para formulação das políticas de governo, entre as quais a preservação do patrimônio e da produção artística se destacam.
Arte, história e patrimônio não eram para ele categorias isoladas. Tampouco deveriam centrar-se na produção importada, embora dominasse o que se fazia na Europa. Ao contrário, a produção artística vernacular, os artistas locais e a arquitetura que abrigara o trabalho rural ou urbano eram suas preocupações primordiais.
Espanta ver que, no século 21, personalidades políticas e empresariais, do alto de sua soberba e de sua ignorância, venham dizer que antigos edifícios industriais nada têm de "histórico" ou que a verticalização no entorno de parques ou de bens tombados significa o "progresso". Alegam que imóveis com propostas para verticalização foram comprados a peso de ouro, em razão de sua localização. Mas silenciam sobre qualquer contribuição que tenham feito para a valorização ou a preservação desses monumentos e parques, simplesmente porque nunca o fizeram.
Prosper Merimée, recém-nomeado o primeiro Inspetor dos Monumentos Franceses (1834), dizia que sua função fundamental era "gritar no meio da selvageria". Pois foi o que fez o Conpresp, cumprindo suas funções, com o apoio de instituições como a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e diversas entidades de "amigos de bairros".
O prefeito Kassab também tem cumprido seu dever de defender a qualidade da ambiência urbana, sobretudo com o programa da Cidade Limpa.
Falta agora dar passos mais ousados com a valorização de nosso pequeníssimo acervo de edifícios significativos e de parques públicos, além da promoção da produção artística e arquitetônica de qualidade.
Mas, por favor, não contem para o Mário sobre a barbárie que representa o projeto de lei aprovado pela Câmara, que a troco de interesses baixos e mesquinhos, na prática, extingue o Conpresp.
que o tornaram possível, individual ou



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