30 julho 2007

Novas bibliotecas em estações do Metrô

Uma boa notícia do site do Gilberto Dimenstein

Com o propósito de estimular a leitura e diminuir o analfabetismo funcional, o Instituto Brasil Leitor (IBL) montou em setembro de 2004 a primeira biblioteca dentro de uma estação de metrô paulistana. “Passamos três anos estudando a medida” conta Willian Nacked – presidente da IBL. Até então, os projetos da instituição eram menos ambiciosos, instalando stands de livros em ruas até movimentadas, mas sem a capacidade de atingir um público grande – como os milhões de usuários do metrô.

“Por meio de um estudo que fizemos, soubemos do alto nível de respeito que as pessoas têm pelo metrô”. Com isso, Nacked conta que sentiu segurança em captar recursos para abrir a primeira biblioteca na estação Paraíso.

“Quando eu vi o espaço da biblioteca no Paraíso fui logo ver como era o regulamento para participar”, conta Suzete Piloto Monteiro. Moradora do bairro Conceição, Suzete trabalha como comerciante nas proximidades da estação São Joaquim. “O bom é que a gente pode ficar 10 dias com cada livro, com a possibilidade de renovar duas vezes”. O trajeto casa-trabalho-casa, conta ela, é sempre feito com os olhos grudados nas páginas de algum livro.

“Eu amo leitura, já li mais de 120 obras da biblioteca do Paraíso”, diz entusiasmada. “Se não fosse a biblioteca, não teria condições de comprar todos esses livros”. Suzete tem apenas uma reclamação: quer mais velocidade na atualização da lista dos livros novos. “Como sempre chega livro, eles não têm tempo de atualizar a lista”, queixa-se. “Aí fica difícil de encontrar as obras novas”.

Expansão
Além da estação paraíso, o a IBL já implantou bibliotecas na estação Tatuapé (em 2005) e Luz (em 2006). “E no fim de novembro iremos inaugura a quarta na estação Largo Treze”, revela Nacked. As cidades do Rio de Janeiro e Recife também contam com bibliotecas em estações de metrô.

“Queria poder abrir mais de uma biblioteca por ano”, informa Nacked. “O que motiva é o fato de não enfrentarmos problemas de não devolução”. Segundo o diretor da IBL, apenas 2,1% dos usuários de São Paulo não devolveram os livros emprestados. “Mas muitos desses casos estão ligados às obras infantis; as mães têm medo de devolver porque os filhos rabiscaram as páginas”. Já a cidade do Rio de Janeiro registra melhores índices: nenhuma pessoas deixou de devolver o livro emprestado.

O público cadastrado nas três bibliotecas de São paulo é de 21 mil sócios, sendo que 67,3% são mulheres. Ao total, 11 mil livros estão distribuídos nas três unidades paulistas.

17 julho 2007

Cidania do jovem de amanhã.

Coloquei ontem a notícia do pai que se nega a pagar fiança para libertar o filho, numa possível comparação com o pai do menino que agrediu a doméstica Sueli. Este espaço não é para discussão de notícias de jornais e "julgar" quem está certo ou errado. Quero conversar aqui sobre o cidadão de amanhã, o jovem que não sabe, não quer aprender o que é respeito ao próximo, não ter noções de cidadania, civilidade ou o outro termo mais apropriado. Vamos conversar: será que podemos chamar alguns jovens de hoje de cidadãos do amanhã?.

16 julho 2007

Pai se recusa a pagar fiança para o filho

Este espaço não é para conversarmos sobre educação familiar ou mesmo a educação tradicional dos bancos escolares, até porque não tenho o mínimo preparo para tal. Há poucos dias comentei o ataque dos meninos do Rio à empregada doméstica, que confundiram com uma prostituta, e principalmente a reação de um dos pais que considerou que coisas piorem acontecem e que o filho estuda, tem caráter e não pode ficar com outros marginais. E agora acontece o “outro lado” da discussão com um pai que denunciou o filho e se recusa a pagar fiança para coloca-lo em liberdade. Diz o pai que, por mais doloroso que possa ser, é uma forma de mostrar ao filho que errou e tem que pagar. Fica aberto o espaço para as diferentes opiniões.

Um representante comercial de Londrina (383 quilômetros de Curitiba) decidiu não pagar fiança de R$ 500 para libertar seu filho de 21 anos, preso no domingo por dirigir embriagado, após ser denunciado pelo próprio pai.
Juraci Martins, 54, disse, em entrevista à Folha, querer que o filho aprenda com o erro. Na tarde de domingo, o comerciário Rodolfo Martins, 21, pegou a camionete Silverado do pai sem autorização.
Avisado pela mulher, o pai acionou a Polícia Militar, informando que o filho havia saído com o carro sem permissão. Antes mesmo de ser localizado pela PM, o rapaz perdeu o controle da camionete, bateu em outro carro e derrubou o portão de uma casa.
Caçula de uma família de classe média, o comerciário foi preso em flagrante por dirigir embriagado e sem habilitação. Juraci havia proibido Rodolfo de dirigir, já que a carteira de habilitação do filho estava cassada por infrações de trânsito.
O delegado Joaquim Melo estipulou fiança de R$ 500 para liberar rapaz, mas o pai se recusou a pagar.
Rodolfo foi, então, transferido do presídio central de Londrina para uma delegacia, onde deverá ficar preso até a conclusão do inquérito.

"Responsabilidade"
"Eu amo meu filho. Mas não gosto de coisas erradas, e ele havia sido avisado para não cometer erros. Não quero passar a mão na cabeça dele por cada coisa errada que faz. Desse jeito, ele nunca terá responsabilidade", afirmou o pai.
Rodolfo parou de estudar após concluir o primeiro grau. É o único dos três filhos de Juraci -são mais duas mulheres- que não está na faculdade. "Ele é um bom menino, trabalhador, mas quando bebe e se droga ocorre isso."
A fiança fixada pelo delegado tem prazo de dez dias -após esse período, a polícia pode alterar ou até extinguir a caução. Juraci afirmou esperar que o filho reflita sobre suas ações nesse intervalo. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Apoio à decisão
A promotora da Infância e da Adolescência de Londrina, Edina de Paula, apoiou a decisão do representante comercial.
"Se todo pai tivesse esse tipo de atitude, não teríamos toda essa violência gratuita da juventude", disse a promotora.
De acordo com ela, há uma inversão de valores hoje na sociedade, com pais não impondo limites aos filhos.
"Hoje, por trabalharem fora, os pais assumem uma postura de culpa perante os filhos e esquecem que é preciso estipular limites. A atitude desse pai deve ter sido difícil, mas mostrou que ele se preocupa com o futuro do filho", completou Edina.

Crítica
O mestre em educação Edmilson Lenardão, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e integrante do Conselho de Educação do Paraná, disse ver problemas na reação do pai.
"Ele transferiu para terceiros -no caso, a polícia- um rigor que deveria ser dele. Os pais precisam educar os filhos, não transferir essa obrigação", afirmou Lenardão.
"Ele não pode ser tratado diferente só porque o amo"
Juraci Martins não quis comparar a sua atitude com a do empresário Ludovico Ramalho Bruno, que defendeu prisão especial para o filho acusado, junto com amigos, de roubar e espancar uma doméstica no Rio de Janeiro, no dia 23. Ele disse querer que o filho "reflita para não se tornar bandido".
FOLHA - O pai de um dos presos por espancar e roubar uma doméstica no Rio pediu prisão especial ao filho. O sr. tomou posição diferente. Dá para comparar os casos?
JURACI MARTINS - Não. Meu filho não roubou e não atacou ninguém. Quero que meu filho reflita para não se tornar bandido também. É dolorido, mas costumamos achar que as coisas só acontecem com os outros. Quando a casa cai, a gente tem de agir com cidadania, não é porque é nosso filho que tem de ser tratado diferente.
FOLHA - Seu filho está preso com outras pessoas. O sr. se preocupa?
MARTINS - Claro. Eu e minha mulher tentamos agüentar, mas é difícil. Meu filho não pode ser tratado diferente só porque nós o amamos. Os outros presos têm pais também. É um período de provação.
FOLHA - Como os parentes viram sua decisão?
MARTINS - Minhas outras filhas, que vivem em Curitiba, estão dando todo o apoio. Parentes também. Mas não é fácil. Ele é um bom menino, trabalhador, mas andou por caminhos errados. É preciso assumir as responsabilidades pelos seus atos.

11 julho 2007

Cresce lista de trabalhadores em condição degradante

Deu na Folha e, sem comentários. Não é necessário

JULIANNA SOFIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério do Trabalho divulgou ontem a nova lista de empresas e empregadores flagrados submetendo trabalhadores a condições precárias. Essa é a oitava versão da chamada "lista suja", que alcançou um número recorde: 192. A relação anterior contava com 163.
Segundo a secretária de Inspeção do Trabalho, Ruth Vilela, a nova lista traz 51 novos nomes e revela que o Estado de Santa Catarina é um novo foco de trabalho degradante.
Em relação à versão anterior da lista, publicada em dezembro, houve a exclusão de 22 nomes. A secretária explicou que a retirada de estabelecimentos da lista ocorre depois de dois anos. Durante esse período, as empresas não conseguem obter empréstimos em bancos públicos e privados nem acesso a recursos de fundos públicos.
O ministério assinou um pacto com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para conseguir o apoio das instituições privadas. Vilela relata que a pecuária é o setor campeão no emprego desse tipo de mão-de-obra. "Não é exatamente no trabalho com o gado, mas na preparação do pasto", conta. Pará e Mato Grosso continuam sendo os maiores redutos do trabalho degradante.
Ela reconheceu que estabelecimentos ligados à produção de álcool fazem parte da "lista suja". O Brasil vem sendo apontado por parceiros comerciais de usar mão-de-obra escrava na produção do etanol, o que irritou o governo. "Pelo menos não escondemos isso para debaixo do tapete", afirma a secretária.

05 julho 2007

Quadrilhas de canalhas


Contardo Calligaris

Está com medo de tornar-se doméstica ou prostituta? Bata em pobres, índios e putas.
Em poucas linhas, na Folha de sexta, dia 29 de junho, Eliane Cantanhêde descreveu perfeitamente o mundo no qual é possível que rapazes de classe média queimem um índio pensando que é "só um mendigo" ou espanquem uma mulher pensando que é "só uma prostituta". Provavelmente, não teria sido muito diferente se eles tivessem pensado que era só uma empregada doméstica.

É um mundo em que a permissividade é o melhor remédio contra a inevitável insegurança social. Nesse mundo, os pais fazem qualquer coisa para que seus rebentos acreditem gozar de um privilégio absoluto; esse é o jeito que os adultos encontram para acalmar sua própria insegurança, para se convencer de que eles mesmos gozam de privilégios garantidos e incontestáveis. Como escreveu Maria Rita Kehl no Mais! de domingo passado, nesse mundo, aos inseguros não basta ser cliente, é preciso que eles sejam clientes especiais.
Uma classe média insegura é o reservatório em que os fascismos sempre procuraram seus canalhas. Você está com medo de perder seu lugar e, de um dia para o outro, tornar-se índio, mendigo ou empregada doméstica? Pois é, pode bater neles e encontrará assim a confortável certeza de seu status. Aos inseguros em seu desejo sexual, aos mais apavorados com a idéia de sua impotência ou de sua "bichice", é proposto um remédio análogo. Você provará ser "macho" batendo em "veados" e prostitutas.
Há mais um detalhe: a inteligência humana tem limites, a estupidez não tem. Essa diferença aparece sobretudo no comportamento de grupo. Imaginemos que a gente possa dar um valor numérico à inteligência e à estupidez. E suponhamos que o valor médio seja dois. Pois bem, três sujeitos mediamente inteligentes, uma vez agrupados, terão inteligência seis. Com a estupidez, a coisa não funciona assim: a estupidez cresce exponencialmente. A soma de três estúpidos não é estupidez seis, mas estupidez oito (dois vezes dois, vezes dois). Quatro estúpidos: estupidez 16. Cinco: estupidez 32.
Curiosamente, essa regra vale até chegar, mais ou menos, a um grupo de dez. Aí a coisa tranca: a partir de dez, torna-se mais provável que haja alguém para discordar da boçalidade ambiente. Não porque, entre dez, haveria necessariamente um herói ou um sábio, mas porque, num grupo de dez, quem se opõe conta com a séria possibilidade de que, no grupo, haja ao menos um outro para se opor junto com ele.
Esse funcionamento, por sua vez, decai quando o grupo se torna massa. É difícil dizer a partir de quantos membros isso acontece, mas não é preciso que sejam muitos: um grupo de linchamento, por exemplo, pode desenvolver toda sua estupidez coletiva com 20 ou 30 membros.
Em alguns Estados dos EUA, é permitido dirigir a partir dos 16 anos. Mas, em muitos condados desses Estados, vige uma lei pela qual um jovem, até aos 21 anos, só pode dirigir se houver um adulto no carro. Pouco importa que esse adulto seja habilitado a se servir de um carro. O problema não é a perícia do motorista, mas o fato estatístico de que três, quatro ou cinco jovens num mesmo carro constituem um perigo para eles mesmos e para os outros: o grupo de "amigos" potencializa a estupidez de cada um, muito mais do que sua inteligência. Talvez seja por isso, aliás, que, para o legislador, a formação de quadrilha é um crime em si.
Qualquer pai de adolescente reza ou deveria rezar para que seu filho encontre rapidamente uma namorada e passe a sair na noite com ela, não com a turma dos amigos. Pois a turma é parente da gangue.
Como se sabe, o pai de um dos cinco jovens que, na madrugada do dia 23 de junho, na Barra da Tijuca, espancaram Sirlei Dias de Carvalho Pinto, comentou, defendendo o filho: "Prender, botar preso junto com outros bandidos? Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?". É o desespero de quem sente seu privilégio ameaçado: como assim, tratar a gente como qualquer um?
Não éramos "clientes especiais"?
Mas as frases revelam também a distância entre o filho que o pai conhece em casa (o filho que teria "caráter") e o filho que se revela na ação do grupinho (esse filho não tem "caráter" algum).
O que precede poderia ser entendido como uma atenuante, tipo: eles agiram assim não por serem canalhas, mas por estarem em grupo. Ora, cuidado: o grupo não produz, ele REVELA os canalhas.

03 julho 2007

Ação flagra trabalhadores em "situação degradante"

Trechos de matéria de jornal e sem comentários: totalmente desnecessário.

A fiscalização do Ministério do Trabalho flagrou 1.108 cortadores de cana-de-açúcar submetidos a condições degradantes de trabalho numa propriedade da empresa Pagrisa (Pará Segundo a PGT (Procuradoria Geral do Trabalho), foi o maior resgate já realizado pela fiscalização do Grupo Móvel de Combate ao Trabalho Escravo, formado por fiscais do ministério e agentes da Polícia Federal, acompanhados de procuradores do Trabalho.
Até então, o maior flagrante de trabalho degradante feito pela fiscalização do grupo havia ocorrido em junho de 2005, na destilaria Gameleira, em Confresa (MT), quando 1.003 trabalhadores foram libertados.
Segundo o coordenador do grupo móvel que fiscalizou a Pagrisa, Humberto Célio Pereira, os trabalhadores estavam alojados em quartos apertados e malcheirosos, nos quais se "amontoavam um sobre os outros". A fiscalização encontrou esgoto sendo despejado na represa usada pelos trabalhadores para lavar roupa e tomar banho, falta de banheiros e de espaço adequado para alimentação nos locais de trabalho.
Os empregados relataram que a comida fornecida pelo empregador era azeda e vários trabalhadores estavam doentes, com náuseas e disenteria.
A fiscalização encontrou casos de trabalhadores que recebiam menos de R$ 10 de salário por mês devido a descontos indevidos de alimentação e remédios. "Eles ficavam sem condições de sair do local por causa das dívidas e porque não tinham dinheiro. A maioria veio do Maranhão e do Piauí e estava numa situação muito degradante", disse Pereira.
Segundo depoimento dos trabalhadores aos fiscais, os recrutamentos começaram há cerca de seis meses.
Os responsáveis pela empresa poderão ainda responder a uma ação por dano moral coletivo na Justiça do Trabalho.
A Pagrisa é a maior produtora de álcool do Pará, onde está instalada desde 1967.

02 julho 2007

"Um cara desses"

ELIANE CANTANHÊDE



BRASÍLIA - Quando os filhos são pequenos, chutam a canela da empregada, e os pais acham "natural", fingem que não vêem. Já maiores um pouco, comem o que querem, na hora em que querem, não falam nem bom-dia para o porteiro e desrespeitam a professora. Na adolescência, vão para o colégio mais caro, para o judô, para a natação, para o inglês e gastam o resto do tempo na praia e na internet. Resolvido.
Dos pais, ouvem sempre a mesma ladainha: o governo não presta, os políticos são todos ladrões, o mundo está cheio de vagabundos e vagabundas. "E quero os meus direitos!" Recolher o INSS da empregada, que é bom, não precisa.
É assim que os filhos, já adultos, saudáveis, em universidades, são capazes de jogar álcool e fósforo aceso num índio, pensando que era "só um mendigo", ou de espancar cruel e covardemente uma moça num ponto de ônibus, achando que era "só uma prostituta".

A perplexidade dos pais não é com a monstruosidade, mas com o fato de que seu anjinho está sujeito -em tese- às leis e às prisões como qualquer pessoa: "Prender, botar preso junto com outros bandidos?
Essas pessoas que têm estudo, que têm caráter, junto com uns caras desses?", indignou-se Ludovico Ramalho Bruno, pai de Rubens, 19.
Dá para apostar que ele votou contra o desarmamento, quer (no mínimo) "descer o pau em tudo quanto é bandido" e defende a redução da maioridade penal. Cadeia não é para o filho, que tem estudo e dinheiro, um futuro pela frente. É para o garoto do morro, pobre e magricela, que conseguir escapar dos tiroteios e roubar o tênis do filho.
Isso se resolve com o Estado sendo Estado, com justiça, humanidade e educação -não só com ensino para todos e professores mais bem treinados e mais bem pagos, mas também com a elementar compreensão de que "o problema", e os réus, não são os pobres. Ao contrário, eles são as grandes vítimas.