31 maio 2007

Uma boa noticia.

Da coluna da Monica Bergamo


Fumódromo

O Brasil é um dos países mais bem-sucedidos do mundo na guerra contra o cigarro: um estudo feito pela USP, que será publicado em julho no Boletim da Organização Mundial de Saúde, mostra que o número de fumantes no país caiu 35% num intervalo de 14 anos: 34,8% dos brasileiros fumavam em 1989, contra 22,4% em 2003. A queda, de 2,5% ao ano, é considerada "excepcional" se comparada às de outros países: 0,7% nos EUA, 0,6% no Japão e 0, 8% no Reino Unido.


FUMÓDROMO 2

O percentual de fumantes no Brasil (22,4%) é semelhante ao dos EUA (20,8% em 2004), e do Canadá (20% em 2005). E menor que o da Argentina (40% em 2000). Coordenado pelo professor Carlos Monteiro, da USP, o trabalho tem como base pesquisa feita pelo IBGE em 1989 e outra, de 2003, realizada pela OMS/ Fiocruz, além de estudos feitos no mundo todo em período semelhante.


FUMÓDROMO 3

Um dos motivos apontados pelos estudiosos para a queda é o programa de restrição à propaganda de cigarro na TV, além da proibição de fumar em locais públicos. Nas conclusões, o trabalho propõe medida mais radical: o aumento do preço do produto, para inibir o consumo entre os que têm menor poder aquisitivo. De acordo com os números, a taxa de fumantes entre os que têm menor renda e escolaridade, de 27%, é bem mais alta que entre os mais ricos e escolarizados: 15%.


29 maio 2007

Para acabar com o nosso bom humor

Reportagem da Folha para fazer a gente pensar um pouco sobre as condições de trabalho no nosso Brasil.

Empresas incentivam combate à escravidão

Pecuária bovina, cana, soja e algodão são as culturas que mais usam escravos, especialmente nas bordas da região amazônica
A pressão das grandes companhias em suas cadeias produtivas, especialmente com fornecedores, começa a surtir efeitos no combate ao trabalho forçado no Brasil. Às vésperas do aniversário de dois anos do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, três dos maiores frigoríficos do país se comprometeram a cortar relações comerciais com empresas presentes na "lista suja" do Ministério do Trabalho.
Instituída em fins de 2003, a "lista suja", atualmente com 162 nomes (todos de propriedades rurais), relaciona empresas flagradas com trabalho escravo. A inclusão só acontece após o fim do processo aberto pelo auto da fiscalização, ou seja, após o direito de defesa ser exercido pelos acusados.
As empresas permanecem na lista por dois anos e saem se pagarem as multas resultantes da fiscalização, quitarem todos os débitos trabalhistas e previdenciários e não reincidirem no crime. Bancos federais podem barrar empréstimos de recursos públicos, e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) está aconselhando seus associados a fazerem o mesmo.
E os signatários -ABN Amro, Carrefour, grupo Rosset, Belgo-Mineira e Suzano, entre outros- do Pacto se comprometem a erradicar o crime em suas cadeias produtivas.

Corte na carne

A pecuária bovina é o setor econômico com maior presença na "lista suja" e, até este mês, dos 19 frigoríferos identificados como compradores de produtos oriundos de trabalho escravo, nenhum havia se comprometido a cortar relações com as fazendas acusadas.
A situação mudou depois que o Wal-Mart cortou contrato com o abatedouro Frinorte, do Tocantins, porque a empresa, mesmo depois de alertada, continuou comprando carne de uma fazenda reincidente em trabalho escravo, e convocou seus outros fornecedores para pedir adesão ao esforço.
O Friboi, maior frigorífico do Brasil, e o Redenção, maior do sudeste do Pará, que compravam mercadorias de fazendas flagradas detendo trabalhadores, assinaram. "A cadeia [produtiva] começa a agir assim, quando alguém cobra em uma ponta, como fez o Wal-Mart", diz Roberto Fontana, diretor de vendas de carne "in natura" do Friboi. Já o Frigorífico Bertin, o segundo maior abatedouro e o primeiro em exportação de carne do Brasil, cedeu à pressão do Banco Mundial, seu financiador (a empresa recebeu, em março, empréstimo de US$ 90 milhões), e também assinou.
O cientista político Leonardo Sakamoto, coordenador da ONG Repórter Brasil e autor de tese de doutorado sobre a "reinvenção" da escravidão pelo capitalismo, diz que a presença de escravidão e servidão por dívidas no Brasil deixa os exportadores brasileiros vulneráveis a sanções internacionais por alegadas razões humanitárias. A ONG foi responsável pelo mapeamento da escravidão nas cadeias produtivas do país.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) estima que o número de vítimas de trabalho forçado, excluindo exploração sexual, seja de 7,8 milhões de pessoas no mundo. No Brasil o contigente é de cerca de 25 mil pessoas (zona rural), número que está em revisão.
No Brasil, a maioria é de homens com idade entre 18 e 44 anos, analfabetos ou com até dois anos de estudo; 85% deles começaram a trabalhar antes dos 12 anos.
A maior parte desses trabalhadores vem sobretudo do Maranhão ( 39,2%), Piaui (22%), Tocantins (15,5%), Pará ( 8,5%), Goiás (4,2%) e Ceará (3,8%); dos resgatados entre 2003 e 2007, 33.347 vieram do Maranhão e 1051 do Pará.

07 maio 2007

Evento mostra vontade de retomar as ruas

Transcrevo mais um texto do Gilberto Dimenstein na Folha que é bem aquilo que eu senti durante as horas, as caminhadas e com a alegria e a disposição dos moradores de São Paulo provando que é possível a convivência em comunidade e saber que a utopia do termo cidadania ainda pode tornar-se realidade.

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Passei boa parte da madrugada caminhando pelas ruas do centro, menos preocupado em assistir aos shows do que apreciar a movimentação das tribos.
Numa cidade tão temerosa de suas ruas, retalhada em guetos que diziam a idéia de espaço público, o burburinho humano me parecia muito mais interessante do que qualquer espetáculo -o paulistano não está habituado a manifestações públicas de alegria, tamanha a violência que vivemos.
Senti uma certa irrealidade, como se voltasse no tempo quando, menino, caminhava sem medo pelas ruas do centro, encantado com a elegância das lojas ou com a animação das livrarias e cinemas.
A selvageria que ocorreu na praça da Sé é, certamente, um episódio isolado, provocado por um grupo de arruaceiros, um minúsculo ponto da gigantesca paisagem humana dos que se divertiam ouvindo rock, rap, boleros, sambas, repentes. Fala-se que a Virada Cultural teria atraído 3,5 milhões de pessoas, mas os arruaceiros que ganharam as manchetes não seriam mais do que 30 jovens. Sob esse aspecto, o evento seria um sucesso.
Os arruaceiros, porém, me trouxeram à realidade paulistana, ou melhor, à nossa tragédia metropolitana, na qual eles são exércitos de seres agressivos, ressentidos, sempre à espera de um pretexto para explodir, seja ele qual for; uma letra de música de Mano Brown ou a inabilidade policial.
A Virada Cultural são 24 horas de festa e revela mais do que um evento cultural, mas uma vontade de reconquistar as ruas e não nos fazer uma comunidade de acuados; a selvageria nos tira a ilusão de como essa tarefa é um desafio de toda uma geração.

A Virada Cultural

Acompanhei a Virada Cultural realizada em São Paulo no último fim de semana e acompanhar no sentido mais amplo, pratico e físico possível já que com a Adriana e a Fernanda assistimos os primeiros espetáculos às 18 horas de sábado no Centro Cultural e seguimos "firmes, fortes e alegres" até o encerramento no domingo. Durante a noite e madrugada percorremos - várias vezes - todo o centro de São Paulo com uma passagem pelo Mercadão entre as 2,30 e 4 horas e foi tudo na mais absoluta paz e tranqüilidade como um exemplo de Cidadania por parte dos nossos governantes e de nós moradores desta cidade. Hoje de manhã logo na primeira página da Folha uma foto mostrando policiais em confronto com fãs dos Racionais MC's durante apresentação na Praça da Sé fez me voltar á realidade, infelizmente triste realidade. Transcrevo o artigo do Gilberto Dimenstein na Folha falando da Virada e do confronto.


A alegria venceu o medo

A pancadaria na Praça da Sé está transmitindo a imagem de que, mais uma vez, a barbárie venceu em São Paulo. Um evento criado para que os paulistanos tomassem com alegria as ruas estaria apenas reforçando nosso justificado medo. É uma pena que as cenas tenham ocorrido, mesmo que sejam um fato isolado, provocado por arruaceiros, talvez estimulados pelas letras agressivas de Mano Brown ou pela inabilidade policial.

Durante várias horas de caminhada, só vi prazer e civilidade. Todos os ritmos possíveis, do rock, rap, pagode, bolero até o samba, além das mais diversas manifestações de arte. Aplaudiam-se entusiasticamente Cauby Peixoto e Ângela Maria, na rua Vieira de Carvalho, os dançarinos de Ivaldo Bertazzo, a força da Nação Zumbi, a mistura de música erudita e samba na quadra da Vai-Vai. Tudo isso muito próximo, unindo tribos tão distantes, dos gays da terceira idade aos manos.

A pancadaria arranhou um evento jamais ocorrido em toda a história da cidade, onde nunca tanta gente se reuniu para tomar as ruas e festejar. Caminhei boa parte da madrugada pelo centro e fiquei encantado com o prazer coletivo, a diversidade das tribos, a riqueza cultural. Era como um grito da resistência contra a nossa barbárie cotidiana.

Os arruaceiros nos fazem lembrar nossa incivilidade diária, o pavor das ruas, as manchas de exclusão que nos sufocam. Mas, para mim, o que essencial é a capacidade de uma cidade tomar as ruas com alegria, capaz de derrotar o medo.

Na Virada Cultural, no ano passado, a cidade teve de enfrentar o medo dos ataques do PCC; agora, o medo de um bando de delinqüentes que ganhou as manchetes.

Não temos alternativa se quisermos ser uma comunidade de cidadãos e não um povoado de refugiados, exceto continuar tentando conquistar as ruas; se um punhado de marginais causou terror, milhões se divertiram, fazendo a alegria vencer o medo.

Trânsito e cidadania

Transcrevo o artigo publicado no Caderno Equilibrio da Folha de São Paulo assinado pela Rosely Sayão


O comportamento no trânsito, de motoristas e de pedestres, anda deplorável. A todo momento, cenas lamentáveis ocorrem: motoristas insultam e ameaçam outros motoristas ou pedestres e usam o carro como se fosse uma arma. Parece uma guerra. E o problema não é só nosso: recentemente, a França realizou o "dia da cortesia no trânsito", em que manter o sangue frio em todas as circunstâncias, sobretudo nos engarrafamentos, e respeitar pedestres, crianças e ciclistas foram orientações dos "dez mandamentos da cortesia ao volante", divulgados nesse dia.
Um dos motivos desse caos é que as pessoas não entendem que o espaço que usam com seus veículos é público. Ao entrar em um carro, propriedade privada, a fronteira entre o público e o privado, que já anda tênue, parece se dissipar. Ao dirigir ou andar nas ruas, as pessoas agem como se cada uma estivesse unicamente por si: ignoram os outros ou se sentem atrapalhadas por eles. As regras e os sinais de trânsito, que existem para ordenar esse espaço público, são desrespeitados repetidamente. Há movimento intenso no entorno da escola e o filho está atrasado? Poucos pais vacilam na decisão de parar em local proibido ou em fila dupla. Poucos hesitam em fazer um retorno proibido para encurtar o caminho ou mesmo em dirigir em velocidade maior do que a permitida para chegar mais rápido.
Até parece que os sinais de trânsito são meros caprichos de um grupo desconhecido de pessoas. Ninguém mais parece entender que as leis de trânsito -aliás, como todas- existem para proteger os cidadãos, e não para agredi-los ou restringir suas vidas. Mas a questão é que o direito de cada um no caso do trânsito -a segurança- só é garantido quando ele próprio respeita as leis. Pelo jeito, o carro deixou de ser um veículo de transporte cujo objetivo é levar as pessoas de um local a outro. Virou sinônimo de poder ou de status. Uma pesquisa britânica mostrou que dois em cada três homens trocariam suas namoradas pelo carro de seus sonhos, vejam só!
A idéia de cidadania ganhou tom pejorativo por causa do individualismo, e isso pode ser constatado principalmente no trânsito. Cidadania supõe se responsabilizar pelo coletivo e, sobretudo no trânsito, o que vemos são atitudes de confronto e de competição. Creio que não é exagero afirmar que vivemos tempos de barbárie nessa questão: cada um por si, e vale tudo para atingir a meta pessoal.
Quando os adultos se comportam assim, ignoram também que colocam os mais novos em risco. São os jovens as maiores vítimas de acidentes de trânsito ou de brigas por desentendimentos com outros motoristas, pedestres ou motociclistas. Isso sem falar nas lições de incivilidade e de grosseria que são passadas a eles. E os velhos? Eles que não se atrevam a dirigir ou a andar pelas ruas. Afinal, lugar de velho e de criança não é mais na rua. Não é isso o que temos cultivado?
Precisamos continuamente lembrar -e praticar- que, no trânsito, o respeito às leis e os bons modos permitem maior qualidade de vida a todos nós.





Sugestões de civilidade e cidadania

A Vejinha, em matéria de capa, listou dezenas de sugestões de “civilidade” para que o paulistano tenha uma vida melhor, com mais compreensão e harmonia. Não vou repetir nenhuma das sugestões porque me sinto extremamente mal ao saber que para algumas pessoas, e são poucas felizmente, é preciso ter uma “cartilha de boas maneiras” para seguir e aprender a respeitar o próximo e o direito das pessoas em uma cidade. São regras de bom comportamento que se aprende em primeiro lugar em casa, a chamada “educação de berço” que é repassada de pais para filhos e que infelizmente hoje é coisa do passado. E não adiante "entregar" os filhos nas melhores e mais caras escolas pois nem os melhores educadores do mundo conseguem.