11 dezembro 2007

Cidania do Natal e do Papai Nóel




Começa o mês de dezembro e as pessoas, influenciadas pelo aparecimento da Estrela de Belém há 2.000 anos, deixam de lado a dureza e a cegueira do ano que está acabando e resolvem se penitenciar. E ai começam as “caravanas de papais nóel” dirigindo-se ás periferias tendo como alvo principalmente as crianças.

Pela primeira vez acompanhei uma “caravana” e, muito embora a minha descrença com ealação a estes eventos, tinha a esperança de “ser convencido” e entrar no espírito natalino. Mas foi tudo em vão e começou logo na primeira chegada a uma aldeia indígena, com um dos papais nóel “saudando” as pessoas com a mão direita e com um cigarro aceso na esquerda. Rápidamente foram dadas ordens às crianças para que formassem filas, com meninos de um lado e meninas de outro (depois das outras “visitas” fui entender o motivo de tanta rapidez na formação de filas). Os indígenas não tem a cultura de papai noel - a minha amiga que estava de vestido vermelho e gorro também vermelho foi saudada por uma das crianças: “olha o papai-nóel” – tem outros tipos de brinquedo e de diversão e quando receberam os aviõezinhos de plástico (os meninos) e uma bolsinha feminina de plástico( as meninas) não entenderam direito e a reação deles foi de extrema decepção (ou quem sabe por timides) e não sorriram nem com a outra rodada de chicletinhos e bambolês de plástico. E foi duro ouvir algumas frases, como a do coordenador a uma das voluntárias: “não está faltando indio?” e eu poderia responder, se não fosse educado e estraga prazer: “a que indio você se refere cara pálida?”. Ao ouvir comentários das dificuldades de moradia dos indios, sem espaço, morando em barracos e com as crianças sujas saiu a pérola: “é por isso que faço questão de vir todos os anos, para ver o sorriso delas”. Que sorriso cara pálida. Talvez se refira ao sorriso das crianças brancas, estas sim, sorriem pois desde pequenas são acostumadas pelo pais a esperar os presentes de fim de ano dos tios vestidos de papai nóel. Na segunda atividade a mesma agilidade na formação de filas e o mesmo papai nóel que chegou com cigarro aceso e fumando na primeira, mal conseguir esperar acabar o “sufoco” da distribuição, dos hohohos, dos abraços das crianças e da roupa quente para sair tomando uma latinha de cerveja no meio de todos. Um dos voluntários chegou de carro com musica (?) em alto volume com uma lata de cerveja na mão direita.
As atividades tinham horários marcados e lembrava políticos em campanha eleitoral quando visitam várias cidades no mesmo dia e contam com os coronéis da cidade para preparar as carreatas, fazer um rapído discurso e partir para outra cidade.
Não fiz os meus comentários na hora para não ser chamado de estraga prazer.
Se alguém de vocês ler este texto não fique bravo, revoltado, não se sinta ultrajado pois você é apenas um reflexo da nossa sociedade que tenta tirar o peso da consciência do ano inteiro, quando ao contrário da caravana que buzinava com os vidros abaixados distribundo balinhas para as crianças nas ruas. nos outros dias do ano o carro vai andar com os vidros protegidos pelos ‘insulfimes”, ar refrigerado, ouvindo os brunos e marrones, os netinhos e as bandas mel e ficar receoso toda vêz que vir “um de menor” nos cruzamentos. Não vai mais precisar ir até a periferia com medo. “Aqui se você correr menos de vinte quilometros por hora será assaltado”, não foi isso que disse a mim ao me ver sem sapatos? (deixei-os no carro). Vai continuar preocupado com os seus bens e imóveis. Ao ouvir que nos perdemos e encontramos o grupo ao “optar sempre pela esquerda” para achar o caminho você disse: “Está de vermelho e gosta da esquerda?...já sei”. Fique tranquilo, pois nas eleições de 89 para presidente um dos argumentos usados para convencer os eleitores era de que o Lula fosse eleito vocês teriam que dividir as suas casas. E o que o pais ganhou?. Anos depois, após ser eleito, o Lula não instituiu a prática de “comer criancinhas”, não tomou os seus imóveis e, muito pelo contrário, seguiu a politica econômica continuando com benefícios aos poderosos. Não tenho nada com andar em carros último tipo, com ter situação financeira boa, mas você vai continuar com medo, com medo dos pobres, medo dos índios, medo dos “negrinhos’, medo de quem ideias diferentes das suas. Neste Natal você vais se reunir e comer e beber do bem e do melhor - é isso é bom é ótimo pois afinal é comemoração e, acredite, estou falando sério - sem crise de cons ciência ( a crise de consciência só surgiu no ano que resolveram distribuir um pouco do que tinham). No próximo ano novas crianças, novos “indios” estarão á espera.
Até o próximo Natal

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