15 março 2007

Assalto dentro da lei

Assalto dentro da lei

É o título de mais uma das dezenas de correntes, convocações, mensagens de auto-ajuda acompanhadas de lindas imagens de cachoeiras e com aquele fundo musical mais chato que música de elevador. Mas o e-mail com o chamativo título que quero comentar e, acho que está no propósito desta “coluna” é a falta de participação das pessoas, da ignorância mesmo do que está acontecendo, das mudanças em nosso pais. Convoca à luta contra a nova formula de cobrança das contas telefônicas que passam a ser feitas através de minutos e não mais de pulsos e creditam ao governo atual a “responsabilidade” pelo absurdo da medida. Não quero aqui, em nenhuma hipótese defender o governo atual e nem mesmo os anteriores e os posteriores. Com a privatização das teles em 1998 os órgãos de defesa dos consumidores em conjunto com entidades privadas iniciaram o movimento para a transparência da cobrança por parte das empresas de telefonia. Então à partir daí foram feitas consultas populares, seminários, audiências públicas abertas à toda a população e o que quero ressaltar é a falta de conhecimento, informação, interesse das pessoas e agora precisamos suportar os “irados de plantão” que resolvem se manifestar depois que dezenas de pessoas ocuparam o seu tempo preparando material e subsídios para a definição final. E ai em uma possível roda de bar alguém fala que o governo está impondo uma nova forma de cobrança e alguém protesta na hora, diz que é roubo que “não podemos aceitar” e sem procurar se informar melhor resolve providenciar uma corrente e os “incautos” que recebem sem qualquer análise e talvez nem leondo vão repassando. Onde estavam quando as discussões começaram? dentro (possivelmente) da rotina serviço, bar, chegada em casa e preparar para os bigbbrohers, lucianas e hebes da televisão. Porque, na ida para o serviço não ouvem pelo menos o rádio? e tem emissoras sérias que fazem um excelente jornalismo – vai ai um comercial gratuito: Rádios Bandeirantes, CBN e Eldorado – mas preferem dirigir preocupados em ultrapassagens proibidas, desrespeitar os pedestres e ficar com a mão na buzina enquanto houve o funk do pancadão, os leandros e leonardos e os ainda presentes pagodeiros agora em “carreira solo”, porque durante o dia no trabalho não usam a internet para se informar enquanto ficam acessando os youtube para ver as imagens dos amassos da daniela cicareli?. Conheço um empresário da área de banners, luminosos e fachadas de prédios ( não é o que foi chamado de vagabundo pelo nosso digno alcaide) que disse ter passado fome pela queda do movimento após a lei da cidade limpa e ser obrigado a mudar de ramo. A reação dele: “políticos são todos vagabundos, filhos da puta e só pensam neles” e a pergunta: onde você estava quando as discussões, as audiências públicas, as manifestações contra e a favor se realizavam? Porque não se informou junto à sua classe?. Não discuto também se a lei está certa ou errada, se há exageros ou não, discuto aqui mais uma vez a falta de participação do cidadão. E no final do glorioso e-mail vem a pérola: se repassar ajuda...estou fazendo a minha parte...com pressão é possível fazê-los voltar atrás e mais uma vez a pergunta: pressão de quem companheiro? A sua? Que provavelmente vai voltar à rotina desinteressada e mais nobre de opinar se a bela bandeirinha errou ou não ao anular o gol do Santos, pois a sua parte foi feita, repassou o e-mail e pode dormir tranquilo.

14 março 2007

Cidadania mais do que nunca!

Nunca se falou tanto sobre cidadania, em nossa sociedade, com nos últimos anos. Mas afinal, o que é cidadania?

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, “cidadania é a qualidade ou estado do cidadão”, entende-se por cidadão “o indivíduo no gozo dos direitos civis e políticos de um estado, ou no desempenho de seus deveres para com este”.


No sentido etimológico da palavra, cidadão deriva da palavra civita, que em latim significa cidade, e que tem seu correlato grego na palavra politikos – aquele que habita na cidade.

No sentido ateniense do termo, cidadania é o direito da pessoa em participar das decisões nos destinos da Cidade através da Ekklesia (reunião dos chamados de dentro para fora) na Ágora (praça pública, onde se agonizava para deliberar sobre decisões de comum acordo). Dentro desta concepção surge a democracia grega, onde somente 10% da população determinava os destinos de toda a Cidade (eram excluídos os escravos, mulheres e artesãos).

“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.

Construir cidadania é também construir novas relações e consciências. A cidadania é algo que não se aprende com os livros, mas com a convivência, na vida social e pública. É no convívio do dia-a-dia que exercitamos a nossa cidadania, através das relações que estabelecemos com os outros, com a coisa pública e o próprio meio ambiente. A cidadania deve ser perpassada por temáticas como a solidariedade, a democracia, os direitos humanos, a ecologia, a ética.

A cidadania é tarefa que não termina. A cidadania não é como um dever de casa, onde faço a minha parte, apresento e pronto, acabou. Enquanto seres inacabados que somos, sempre estaremos buscando, descobrindo, criando e tomando consciência mais ampla dos direitos. Nunca poderemos chegar e entregar a tarefa pronta, pois novos desafios na vida social surgirão, demandando novas conquistas e, portanto, mais cidadania.

"Tirado" de textos do Dr. Dalmo de Abreu Dallari e Prof. Vanderlei de Barros Rosas