16 julho 2007

Pai se recusa a pagar fiança para o filho

Este espaço não é para conversarmos sobre educação familiar ou mesmo a educação tradicional dos bancos escolares, até porque não tenho o mínimo preparo para tal. Há poucos dias comentei o ataque dos meninos do Rio à empregada doméstica, que confundiram com uma prostituta, e principalmente a reação de um dos pais que considerou que coisas piorem acontecem e que o filho estuda, tem caráter e não pode ficar com outros marginais. E agora acontece o “outro lado” da discussão com um pai que denunciou o filho e se recusa a pagar fiança para coloca-lo em liberdade. Diz o pai que, por mais doloroso que possa ser, é uma forma de mostrar ao filho que errou e tem que pagar. Fica aberto o espaço para as diferentes opiniões.

Um representante comercial de Londrina (383 quilômetros de Curitiba) decidiu não pagar fiança de R$ 500 para libertar seu filho de 21 anos, preso no domingo por dirigir embriagado, após ser denunciado pelo próprio pai.
Juraci Martins, 54, disse, em entrevista à Folha, querer que o filho aprenda com o erro. Na tarde de domingo, o comerciário Rodolfo Martins, 21, pegou a camionete Silverado do pai sem autorização.
Avisado pela mulher, o pai acionou a Polícia Militar, informando que o filho havia saído com o carro sem permissão. Antes mesmo de ser localizado pela PM, o rapaz perdeu o controle da camionete, bateu em outro carro e derrubou o portão de uma casa.
Caçula de uma família de classe média, o comerciário foi preso em flagrante por dirigir embriagado e sem habilitação. Juraci havia proibido Rodolfo de dirigir, já que a carteira de habilitação do filho estava cassada por infrações de trânsito.
O delegado Joaquim Melo estipulou fiança de R$ 500 para liberar rapaz, mas o pai se recusou a pagar.
Rodolfo foi, então, transferido do presídio central de Londrina para uma delegacia, onde deverá ficar preso até a conclusão do inquérito.

"Responsabilidade"
"Eu amo meu filho. Mas não gosto de coisas erradas, e ele havia sido avisado para não cometer erros. Não quero passar a mão na cabeça dele por cada coisa errada que faz. Desse jeito, ele nunca terá responsabilidade", afirmou o pai.
Rodolfo parou de estudar após concluir o primeiro grau. É o único dos três filhos de Juraci -são mais duas mulheres- que não está na faculdade. "Ele é um bom menino, trabalhador, mas quando bebe e se droga ocorre isso."
A fiança fixada pelo delegado tem prazo de dez dias -após esse período, a polícia pode alterar ou até extinguir a caução. Juraci afirmou esperar que o filho reflita sobre suas ações nesse intervalo. A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito.

Apoio à decisão
A promotora da Infância e da Adolescência de Londrina, Edina de Paula, apoiou a decisão do representante comercial.
"Se todo pai tivesse esse tipo de atitude, não teríamos toda essa violência gratuita da juventude", disse a promotora.
De acordo com ela, há uma inversão de valores hoje na sociedade, com pais não impondo limites aos filhos.
"Hoje, por trabalharem fora, os pais assumem uma postura de culpa perante os filhos e esquecem que é preciso estipular limites. A atitude desse pai deve ter sido difícil, mas mostrou que ele se preocupa com o futuro do filho", completou Edina.

Crítica
O mestre em educação Edmilson Lenardão, professor da UEL (Universidade Estadual de Londrina) e integrante do Conselho de Educação do Paraná, disse ver problemas na reação do pai.
"Ele transferiu para terceiros -no caso, a polícia- um rigor que deveria ser dele. Os pais precisam educar os filhos, não transferir essa obrigação", afirmou Lenardão.
"Ele não pode ser tratado diferente só porque o amo"
Juraci Martins não quis comparar a sua atitude com a do empresário Ludovico Ramalho Bruno, que defendeu prisão especial para o filho acusado, junto com amigos, de roubar e espancar uma doméstica no Rio de Janeiro, no dia 23. Ele disse querer que o filho "reflita para não se tornar bandido".
FOLHA - O pai de um dos presos por espancar e roubar uma doméstica no Rio pediu prisão especial ao filho. O sr. tomou posição diferente. Dá para comparar os casos?
JURACI MARTINS - Não. Meu filho não roubou e não atacou ninguém. Quero que meu filho reflita para não se tornar bandido também. É dolorido, mas costumamos achar que as coisas só acontecem com os outros. Quando a casa cai, a gente tem de agir com cidadania, não é porque é nosso filho que tem de ser tratado diferente.
FOLHA - Seu filho está preso com outras pessoas. O sr. se preocupa?
MARTINS - Claro. Eu e minha mulher tentamos agüentar, mas é difícil. Meu filho não pode ser tratado diferente só porque nós o amamos. Os outros presos têm pais também. É um período de provação.
FOLHA - Como os parentes viram sua decisão?
MARTINS - Minhas outras filhas, que vivem em Curitiba, estão dando todo o apoio. Parentes também. Mas não é fácil. Ele é um bom menino, trabalhador, mas andou por caminhos errados. É preciso assumir as responsabilidades pelos seus atos.

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