07 maio 2007

A Virada Cultural

Acompanhei a Virada Cultural realizada em São Paulo no último fim de semana e acompanhar no sentido mais amplo, pratico e físico possível já que com a Adriana e a Fernanda assistimos os primeiros espetáculos às 18 horas de sábado no Centro Cultural e seguimos "firmes, fortes e alegres" até o encerramento no domingo. Durante a noite e madrugada percorremos - várias vezes - todo o centro de São Paulo com uma passagem pelo Mercadão entre as 2,30 e 4 horas e foi tudo na mais absoluta paz e tranqüilidade como um exemplo de Cidadania por parte dos nossos governantes e de nós moradores desta cidade. Hoje de manhã logo na primeira página da Folha uma foto mostrando policiais em confronto com fãs dos Racionais MC's durante apresentação na Praça da Sé fez me voltar á realidade, infelizmente triste realidade. Transcrevo o artigo do Gilberto Dimenstein na Folha falando da Virada e do confronto.


A alegria venceu o medo

A pancadaria na Praça da Sé está transmitindo a imagem de que, mais uma vez, a barbárie venceu em São Paulo. Um evento criado para que os paulistanos tomassem com alegria as ruas estaria apenas reforçando nosso justificado medo. É uma pena que as cenas tenham ocorrido, mesmo que sejam um fato isolado, provocado por arruaceiros, talvez estimulados pelas letras agressivas de Mano Brown ou pela inabilidade policial.

Durante várias horas de caminhada, só vi prazer e civilidade. Todos os ritmos possíveis, do rock, rap, pagode, bolero até o samba, além das mais diversas manifestações de arte. Aplaudiam-se entusiasticamente Cauby Peixoto e Ângela Maria, na rua Vieira de Carvalho, os dançarinos de Ivaldo Bertazzo, a força da Nação Zumbi, a mistura de música erudita e samba na quadra da Vai-Vai. Tudo isso muito próximo, unindo tribos tão distantes, dos gays da terceira idade aos manos.

A pancadaria arranhou um evento jamais ocorrido em toda a história da cidade, onde nunca tanta gente se reuniu para tomar as ruas e festejar. Caminhei boa parte da madrugada pelo centro e fiquei encantado com o prazer coletivo, a diversidade das tribos, a riqueza cultural. Era como um grito da resistência contra a nossa barbárie cotidiana.

Os arruaceiros nos fazem lembrar nossa incivilidade diária, o pavor das ruas, as manchas de exclusão que nos sufocam. Mas, para mim, o que essencial é a capacidade de uma cidade tomar as ruas com alegria, capaz de derrotar o medo.

Na Virada Cultural, no ano passado, a cidade teve de enfrentar o medo dos ataques do PCC; agora, o medo de um bando de delinqüentes que ganhou as manchetes.

Não temos alternativa se quisermos ser uma comunidade de cidadãos e não um povoado de refugiados, exceto continuar tentando conquistar as ruas; se um punhado de marginais causou terror, milhões se divertiram, fazendo a alegria vencer o medo.

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